PRESSA DE AMAR
Mais um dia vivendo com o seu silêncio. Para você tudo sempre foi com calma, lembro-me bem. E para mim, tudo precisava acontecer muito rápido. Essa pressa que nunca soube explicar, essa ânsia de que tudo acontecesse logo, ainda vive comigo. Talvez seja o presságio da morte iminente. Ou o temor de ficar incapaz de viver qualquer coisa mínima que seja, ainda em vida. Fato é que nossos tempos se desencontram apesar de nossa idade ser continuamente a mesma.
Tem vezes que te sinto à frente, bastante até. Mas eu te chamo e você não ouve. Então eu grito e você não escuta. Não consigo te alcançar e deixo o corpo cair, exausto, com a carga de culpa que deposito nele. Sempre achei difícil acompanhar você. Mas também já me vi te ultrapassando, quando as forças assim permitem, só que nunca ouvi você chamando ou pedindo que o esperasse. Todavia permitiu que eu me fosse. Não clamou, não chorou, não disse absolutamente nada. E eu, caminhando e olhando para trás o tempo todo, na vã esperança de um gesto seu. Que diabos! Tudo que eu queria é que déssemos as mãos e caminhássemos no mesmo passo. Com cadência. No mesmo compasso. Éramos quase um, lembra? Hoje não somos nem metades afastadas. Apenas inteiros quebrados, colados e fajutos.