Juventude “Stand-Up”

“Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor e engolir a labuta?

Mesmo calada a boca resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa?

Melhor seria ser filho da outra

Outra realidade menos morta

Tanta mentira, tanta força bruta”

Será que hoje vivemos num paraíso tal qual não há mais a necessidade de música de protesto?

Tenho apenas 30 anos, porém sou fã de músicas como Cálice, o Bêbado e o Equilibrista (Chico Buarque), Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré), Alegria, Alegria (Caetano) dentre outras. Musicas de protesto, de resistência à realidade social da década de 60 e início dos anos 70. Daí uma extensão do meu gosto da música popular brasileira para o Folk de Bob Dylan, o Rock n Roll dos Beatles e até os iêiêiê dos anos 60 como musica comercial e também a chegada do PopRock e Rock Nacional dos anos 80 como musicas que indicavam o que acontecia, sem falar do incrível Bezerra da Silva que, afora suas letras polêmicas protestava já na arte das capas de seus discos.

Então paro e penso o que estamos cantando e compondo hoje? Não quero ser tão conservador ao ponto de atacar tudo como mera indústria musical, afinal, Led Zeppelin, banda do qual sou hiper fã foi uma das banda mais bem sucedida e uma explosão para a industria da música entre o final da década de 60 e inicio dos anos 70, no entanto, embora suas letras fossem recheadas de ocultismo, haviam também uma certa poesia sobre o lado social além de perversidades nas letras. Na verdade podemos chamar tais letras de mensagens da “contracultura”. Mas hoje, justamente na era da juventude 2.0 (segunda geração da internet), temos um instrumento fantástico que sãos as redes sociais e os blog, entretanto, perdemos a força e principalmente a visão crítica da realidade.

Nos anos 60, jovens com menos de 25 anos como, Chico Buarque, Lô Borges, Beto Guedes, Caetano, Gilberto Gil, outros com menos de 30 como Geraldo Vandré e Milton Nascimento, Elis Regina ou ainda, jovens ingleses como Lennon e McCartney e o americano Bob Dylan que, mesmo chapados de Canabis ou LSD, abalavam as estruturas opressivas da época. Ressaltando que não faço aqui apologia às drogas, mas apenas quero deixar atestar que, nós em pleno estado de sanidade somos incapazes de mudar uma vírgula da história, ao passo que os jovens dos anos 60 e 70 em constante estado de dependente de ácidos, e todo tipo de drogas tinham a coragem de reivindicar e pensar diferente da imposição política e econômica de seu tempo.

Hoje, as noticias estão aí, nas primeiras páginas da internet, nos jornais, em alto e bom som e nada disso nos comove, nada disso nos desperta indignação, nada disso nas faz reunirmo-nos em grupos de bate-papo ou rodaS de debate. O pior de tudo é que diferente de antes, as noticias hoje chegam até nós, não temos que correr atrás, elas simplesmente se alastram e nós, anestesiados que estamos, nem pensamos na possibilidade de levantar questões a respeito. Compartilhamos tudo nas redes, o copo de água que tomamos, a hora que dormimos, se estamos com dor de cabeça, se estamos triste, compartilhamos tudo num verdadeiro “diário público, porém somos incapazes de manifestar a mínima indignação sobre o que está acontecendo.

Infelizmente, hoje qualquer distração nos diverte, qualquer imbecil nos distrai com uma piada, qualquer reality show nos tira o foco dos problemas sociais do país, qualquer frase engraçada com imagens ”toscas” no roubam o tempo de pensarmos e nos posicionam como marionetes idiotas de um entretenimento moderno que se espalha ora nas redes sociais ora nos grupos que participamos.

Hoje tudo é entretenimento, tudo é motivo para Stand-Up. O palanque de jovens corajosos e conscientes do seu papel na sociedade tornou-se palco de jovens alienados, meros produtos de uma economia voltado para o entretenimento, que por sinal, manipula o desejo oportunista de jovens criativos para uma alienação coletiva.

A risada moderna se esvai e reclina sobre o vazio. Mãos levantam-se para aplaudir espetáculos do qual nós somos a piada. O mundo para muitos, se converteu num paraíso, ninguém tem fome, ninguém tem necessidades básicas, tudo é belo e bonito. Ninguém enxerga nada. Aliás, como poderíamos fazer isso se estamos distraídos com as postagens de inutilidades pública?

(Deni Sales)