O pai e uma canção 
                         
                               (No Dia dos pais)


          No dia em que deixei minha casa, meu pai chorou! Isso aconteceu em 1947 quando fiz do internato meu segundo lar. Eu acabara de completar treze anos.
         Começavam, então, minhas andanças pelos colégios e seminários franciscanos. Primeiro a Escola Seráfica de Canindé, no Ceará; depois, Ipuarana, na Paraíba, o seminário maior dos filhos do Poverello, no nordeste.
          Saí de casa e nunca mais voltei.
Em meados de 1952, deixei o seminário, e botei o pé na estrada. Ganhei o mundo... E como tenho andado!
          Enquanto escrevo esta página, recordo comovido o choro discreto do meu pai, parecendo me dizer: "Adeus! Seja feliz!" Essa é, talvez, a mais viva e doce lembrança que guardo dele.

          Conto esta história, consciente de que estou abusando da paciência dos meus poucos e fieis leitores todos interessados, com absoluta certeza, em assuntos mais relevantes.
Entendo, porém, que no Dia dos Pais, vale contar qualquer coisa sobre eles.

          Por que  O pai e uma canção?
Por que esse título e não, digamos, O choro do meu pai? Não seria mais legal? Ganharia, quem sabe, mais alguns leitores. Afinal, todo mundo quer saber por que fulano ou sicrano chorou.
          No meu caso, o que levou meu pai às lágrimas, naquela tarde já tão distante, está mais do que claro: a saudade da cria, na hora "do rompimento do cordão umbilical".

          Mas vou dizer por que dei à minha crônica este título. Fui buscá-lo no livro do Billy Blanco - Tirando de letra e música - que adquiri, estou vendo aqui, em setembro de 1996.
          Músico, compositor, escritor, o arquiteto Billy Blanco nasceu em Belém do Pará no dia 8 de maio de 1924 e morreu no Rio de Janeiro em 8 de julho de 2011.

          Muito bem. Agora, a história contada por Billy Blaco (compositor de Tereza da praia)  e que, como afirmei, ajudou-me a bolar o título que dei a estes meus nostálgicos rabiscos.
          Em resumo: ele mandou o filho estudar nos Estados Unidos. E na mala do filhote, ele colocou uma canção, á qual deu o nome de Meu filho.

                       Meu filho

          Meu filho,
     estás partindo agora para a vida,/ como não sou afeito a despedida,/ te escrevo simplesmente uma canção.
          Meu filho,
     fiz o que pude, agora faz tua parte, / viver no mundo de hoje é uma arte/ de dar e receber em proporção.
          Meu filho,
     vida avança, aprende enquanto é cedo,/ não troques a esperança pelo medo,/ tens uma estrada inteira a percorrer.
          Meu filho,
     te ajuda, e rogo a Deus para ajudar-te,/ eu estarei contigo em toda parte,/ te dando aquela força pra vencer.
          Meu filho,
     com fé, caminho longo a gente atalha,/ é só fazer por onde, e ELE não falha: / O homem é que decide ser.

          É uma história de pai.
          Pela sua ternura, encontrada nesses versos, achei que ela podia muito bem ser recontada no Dia dos Pais.
     


          


     

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 08/08/2012
Reeditado em 24/10/2019
Código do texto: T3819633
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