CATRACAS DA VIOLÊNCIA

O tema não é novo.

Com ele tomei contacto,quando recentemente minha filha que fazia vestibular da FUVEST me falou sobre o tema da dissertação: DESCATRACALIZAÇÃO DA VIDA.

O mais interessante, é que por ocasião dessa proposta de escrita do vestibular, já vinha há muito tempo me sentindo “catracalizada”.Assim passei a observá-las melhor.

Como tem sido difícil sobreviver às catracas da vida moderna! E quantas! Na verdade a vida em sociedade nos obriga a um labirinto de catracas, umas nos levando às outras, e cada vez mais nos sentimos presos a uma logística interminável de rituais, que apenas nos identifica, mas paradoxalmente nos tira a identidade, e o que mais me irrita...a liberdade.

Mas parando para pensar um pouco, muitas destas catracas funcionam em decorrência da violência e da marginalidade social, embora entenda que algumas são necessárias para o funcionamento organizado deste mundo tão populoso.

Ainda outro dia num banco, observava a dificuldade duma senhora já idosa em conseguir passar pela tal da porta DE PROTEÇÃO ÀS GRANDES FORTUNAS.

Mas eu pergunto:Algum assaltante entra pela porta da frente dos bancos, tentando enganar o detector de metais?Comportadamente,como se pedisse licença para entrar?

É óbvio que todos já presenciamos várias situações de constrangimento catracalizador, e aquela senhora acabou por perguntar:

-Mas alguém aqui pensa que sou assaltante?

Não obteve resposta, claro.Apenas mais duas ou três tentativas frustantes de entrada, largou chave, voltou, largou celular, voltou...largou relógio, voltou, e daí, ganhou chaves dum cofre para deixar sua bolsa do lado de fora do banco, mas teve que memorizar sua senha de abertura.

Foi ao caixa eletrônico.Colocou os óculos, e após descatracalizar a visão, não conseguia descatracalizar o cérebro.Digitou seu mês de nascimento, seu CPF, seu RG, uma palavra chave, uma senha, um complemento de senha, e por fim esqueceu aquela seqüência de letrinhas, fundamental para a "web-proteção".

Depois de um lapso da catraca da memória, só assim teve acesso ao seu extrato bancário.

Tinha que pagar dez contas. Portanto, digitou dez códigos de barra diferentes, pois o leitor óptico estava quebrado.A cada operação, operacionalizava novamente tudo que descrevi.

Indignou-se. Reclamou com o gerente...”-desculpe senhora, é tudo para sua própria segurança"...proteção contra a pirataria virtual.

Tocou seu celular, estava lá do lado de fora,na bolsa trancada no cofre.Esqueceu a senha de abetura ...pronto!,estava catracalizada por mais um bom tempo...fora do banco!

-Ai Meu Deus,ainda tenho que ir em mais dois bancos hoje...portanto mais catracas, catracas vezes três!

E assim seguimos.Estressados, desamparados, e catracalizados por mil e uma senhas, números, controles remotos, detectores de metais,alarmes eletrônicos,cãmeras de vídeo segurança, que quase nunca protegem, mas desrespeitam, e muito!

Pagamos altos preços pela proteção virtual, para sermos subitamente atingidos pela pirataria real, inclusive a dos bancos!

Nós, cidadãos do bem, catracalizados em nome da violência..