Casa simples
A porta de entrada da casa simples estava encostada na parede e totalmente aberta sem qualquer preocupação, porta impregnada pela ação do tempo, avermelhada era pela terra que encarde até o pensamento, trinco caído que só servia para empurrar ou puxar a porta, chave? Nem pensar!
O sofá magro de pé fino e alto, forrado de “napa” azul, de um tom que hoje já não existe mais, na estante a televisão mostrava o programa local com a imagem destorcida pela antena quase caída no telhado baixo.
O chão de cimento vermelho pela terra ou de “vermelhão” era difícil de definir, a mesa e as cadeiras, de pernas finas e fórmicas azul, estava coberta pela toalha de mesa encardida mas bem engomada, debaixo de um vazo com um ramo de flor vermelha destacava ao fundo o fogão de lenha acesso em brasa.
A foto na parede retratava os donos casa, ou o pai e a mãe, foto desenhava o rosto dos dois, onde a cor da pele é a mesma do fundo ou da parede. Ao lado uma foto mais elaborada no dia na noiva com o noivo, feita no estúdio e em preto e branco, vestido branco de cauda grande abraçado ao paletó escuro.
As camas de madeira simples, coberta humilde e colchão fundo ao meio retratando quantas e quantas noites ele sustentou um sono pesado.
O calor ajudava a adornar o ambiente seco que tentava ficar arejado com o giro do ventilador de teto que balançava mais do que vetava. Já a lâmpada era acessa por um pino no final de um fio pendurado que corria a parede toda.
O cachorro magro e negro de pernas altas com um olhar de fome descansava no canto da porta, entre a cozinha e a sala, com olhos semi-abetos a vigiar, não a casa, mas como se estivesse a espera da refeição.
O quintal surrado pela lama seca com mato crescendo mas pisoteado pelos moradores que ali habitavam, mas ao fundo uma pequena horta a tentar sustentar a família, de um lado o poço e seu sarilho como se brotasse do chão e do outro o banheiro simples com porta de encosto e telhado de telha fina, toda furada que o sol vazava os pequenos furos e enchia de luz o sanitário solitário no canto escondido.
Saindo pela lateral da casa um corredor estreito e mais mato e mais terra e torrões secos levava a frente da casa e que subindo três degraus de cimento vermelho, com os cantos desbocados, levava ao inicio, a porta de entrada.