O macaco prego.

A nossa amizade começou há muito tempo.
Naquela época eu era um rapazinho forte, tinha acabado de casar.
Desde cedo economizei e comprei um pequeno sítio bem longe da cidade.
A moça com quem me casei também era simples, criada no campo ficava feliz por ter sua própria casa.
Ela era empregada da família, trabalhava na roça, e em casa sem ganhar nada.
Desenvolveu em casa uma horta que dava gosto ver.
E por isto continuei trabalhando sozinho.
Às vezes quando o serviço era muito ela me ajudava ou às vezes eu a ajudava na horta.
Ela tinha mais cabeça que eu e falava:
- Você pode deixar a roça de ameia com alguém, e me ajudar na horta, ela dá mais dinheiro, podemos levar na feira de sábado e vender tudo.
 Mas eu não me decidia então ia pra roça.
Como o conheci.
Minha esposa preparava um caldeirão com comida que colocava em uma sacolinha, colocava também duas bananas, algumas laranjas, como de costume ao chegar à roça procurava uma árvore frondosa e pendurava o corote d’água bem como a comida.
Como na parte da manhã quase não bebia água, só voltava ali por volta das onze e meia, para almoçar.
Ao chegar notei que algum bicho havia mexido na comida.
Na verdade na comida não, nas frutas.
Pelo vestígio, poderia ser um esquilo, fingi não ter percebido, e até deixei um resto de arroz com feijão.
Saí dali e dei uma volta por trás da arvore, agachado entre os arbustos vi um pequeno macaco prego que descia dos galhos altos para comer.
Comeu e subiu de novo se escondendo.
Começou a ser rotina e até que um dia, começamos a dividir comida como amigos.
Era tão boa a companhia que mesmo nos finais de semana, não almoçava com ele, mas levava algumas frutas.
Em casa as crianças foram nascendo, crescendo e eu sempre trabalhando na roça.
Meu amigo me acompanhava até a porteira do sítio próxima de casa, mas como lá tinham muitos cachorros, voltava dali.
Minha esposa ficou doente, morreu, os filhos foram embora, só ficou eu e o macaco prego.
Os cachorros velhos já haviam se acostumado com ele e embora não se gostassem, havia uma convivência pacífica.
Seus dentes começaram a cair e tive que fazer para ele um mingau de fubá, ele não gostava muito, mas comia. O sítio foi vendido pelos filhos e ficou só a casa e um pequeno pedaço de terra.
Na área da casa coloquei uma rede e fiz uma para ele. Os vizinhos falavam:
-É o velho que conversa com o macaco.
Um belo dia meu amigo foi embora, acho que sentiu que ia morrer e quis fazer isto longe de mim.
Me mandaram para um asilo e aqui tem macaquinhos também.
Passo o dia vendo suas brincadeiras...
OripêMachado.


 
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 06/08/2012
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