O que aprendi com Odair José
Brasília, julho de 1997
Eu havia acabado de ser aprovada em um processo seletivo interno que me conduziria enfim a trabalhar na área dos meus sonhos: Gestão de Pessoas. Durante três semanas profissionais aprovados de todo o País se reuniram em Brasília para alinhamento, troca de experiências e assistir a palestras de personalidades da área de educação. O entusiasmo era contagiante.
No final de semana chegou a notícia: Odair José se apresentaria em Brasília. Imediatamente alguém sugeriu: e se fossemos todos para o show? Riríamos das músicas bregas, da performance do cantor, compraríamos rosas para entregar a ele bancando as tietes.
Noite do show, saímos do hotel para comprar as flores. No Teatro, platéia escassa. E eis que chega o artista da noite: humilde, acompanhado de dois músicos, roupas puídas, instrumentos gastos. O cantor se depara com a platéia quase vazia e suspira. Para nosso espanto ele pergunta: “Vocês vieram aqui para me ver mesmo?”
Respondemos: “Sim!”
Nessa hora, tudo mudou.
Qual era mesmo a palavra chave da palestra do dia? Comprometimento!
No palco, os músicos que antes pareciam desanimados, renasceram e o cantor se transformou como se a sua frente estivessem centenas de pessoas.
No nosso grupo, o silêncio.
“Acreditar no que se faz”, disse outro palestrante. Observo aquele homem magro, sofrido, tentando levar a uma platéia mínima um entusiasmo de outros tempos. Meus colegas nem piscam, concentrados. Sinto-me pequena, enquanto lembro das palavras ouvidas durante a semana: carreira, sentido, motivação, profissionalismo, entusiasmo, respeito. Quanta pretensão, a nossa...
O show chega ao fim e uma colega pergunta: “O que faremos com as flores?”
Ao invés de responder, outra colega se levanta e caminha decidida para o palco, colocando sobre ele a sua flor.
Naquela noite gelada de julho, dez pessoas que aprendiam a trabalhar com pessoas caminharam para o palco onde Odair José se apresentava e depositaram ali suas flores com respeito e reverência. Afinal, a lição que precisávamos aprender, ele sabia de cor!