Uma bobagem de adolescente

Não sei exatamente que horas são, mas acredito que já seja domingo. Acordei, não sei ao certo, por alguns barulhos vindos da rua. Provavelmente são os jovens chegando de mais uma dessas ‘agitadas noites’ do Rio de Janeiro. Ligo a TV. E não há nada de interessante passando. Mudo os canais constantemente. Na verdade, não estou dando devida atenção a eles. Acho, já passei pelo mesmo canal uma duas ou três vezes. Eis então que me deparo com a apresentação de uma banda e que, de repente, uma garota surge do nada e agarra o vocalista. Foi então que me lembrei de um dia decorrido em minha adolescência e que agora me parece muito engraçado.

Havia uma banda, na verdade, ainda há, em que me apaixonei na época de minha adolescência. Como todos sabem, numa época em que todos os sentidos são aflorados, todos os sentimentos exarcebados, o mundo está completamente errado e não nos compreende. Mas, eles sim, “A Esfinge”, a banda perfeita, de homens perfeitos, me entendiam.

Acontece que, depois de alguns anos como “fã de carteirinha” da banda, ouvi num programa de rádio típico de minhas tardes monótonas, que “A Esfinge” tocaria em minha cidade. Não pude acreditar. Tive que pedir para que repetissem o que acabava de ouvir. E sim, era real. É claro que, como toda adolescente, me empolguei ao extremo. Não sabia explicar o que sentia e, o mais depressa que pude, comprei a entrada para o show.

A tensão agora aumentava ainda mais. Eu contava os dias, as horas, os minutos, os segundos, os centésimos e milésimos, na espera de que o dia em que eu ansiava tanto, chegaria. Olhava constantemente para ‘aquela entrada’, a qual mudaria de vez a minha vida.

Chegara o dia. O coração palpitava. As mãos suavam. E não sabia se chorava, se gritava ou se sorria. Só sabia que “o dia” havia, finalmente, chegado. E, de repente, eu estava lá. Pude ver Tomy, o vocalista, de perto e meus olhos vidrados não acreditavam no que, de fato, estava acontecendo. Eu jurava que era uma mera ilusão. Mas não, ele estava lá, lindo e gracioso como sempre. Mas, num piscar de olhos, a banda já se despedia. “Não! Gritava meu imo. Não podia ser verdade.” Mas, sim...O era. Não, eu não poderia deixar isso acontecer. Um momento tão esperado acabar assim, no mais pesar. Eu teria, deveria e faria alguma coisa.

Naquele instante, o que de imediato pude pensar foi que, de alguma forma, eu seguiria a banda - Sim, pode parecer loucura, mas eu era apenas uma adolescente boba e insolente - Eu decididamente acompanhei, com os olhos, para onde a banda se seguiria. E, de imediato, tracei meu caminho. Achei o que, na minha mente, era o ônibus para qual Tomy e o resto da banda seguira. E eu, não sei como, me escondi por lá sem que me vissem. Hoje, posso crer, foi sorte demais.

Eu suava constantemente. Minhas pernas estremeciam e meus olhos munidos de lágrimas. Sim, eu veria Tomy e toda a banda. Só poderia estar sonhando. Foi então, que decidida de que o ônibus já percorrera um bom tempo e que, mesmo que quisessem, e acho que iriam querer, me mandar de volta pra casa, demoraria um pouco e eu passaria alguns minutos ao lado DELES, mesmo que fosse apenas para voltar pra casa. E então, simplesmente saí do meu esconderijo.

Mas, uma grande decepção se maculara em meu coração. Meus olhos, inexpressivos, escorriam lágrimas. Minha boca, com um ar de escárnio, se recusava a fechar. Eu, na verdade, não estava no ônibus da banda, mas no da parte técnica dela. A banda, soube depois, seguira para um outro caminho, a fim de que os integrantes descansassem um pouco. E me lembro, realmente, que havia um ônibus à esquerda e outro à direita e julguei, por gostar mais do lado direito, que aquele era o ônibus da banda. Acho que é por isso que hoje admiro tanto os canhotos. Enfim, o que fizeram foi me levar para casa, mas não num momento como eu esperava, que passaria ao lado dos meus ídolos, enquanto imaginava uma desculpa que daria aos meus pais e nos castigos que levaria.

Quando cheguei em casa, meus pais desesperados, não sabiam se me abraçavam ou se me davam um bronca. Bom, no fim, acabei levando os dois. Por mim mesma, decidi que não mais faria aquilo e, gradualmente, fui me desprendendo da banda e deixando de ser uma fã como antigamente. Posteriormente, quando me perguntavam de Tomy, eu me esquecia quem era este, afinal.

Hoje percebo que fora engraçado, embora antes não o tenha julgado assim, mas ao menos serviu para que eu amadurecesse, afinal. Todavia, às vezes é bom ser ingênua, infantil e descontrolada, porque, no fim, sempre há uma história hilariante a ser contada.

Agora, finalmente, pretendo voltar a dormir e não ficar pensando nas minhas bobagens de adolescente que, como executadas pelos jovens lá embaixo, me despertaram de um sono tão bom.

(Em 2010)

Por Jéssica França
Enviado por Por Jéssica França em 05/08/2012
Reeditado em 29/08/2015
Código do texto: T3815734
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