FIGURAS PITORESCAS
FIGURAS PITORESCAS
No decorrer de nossa existência, desde os mais remotos tempos, sempre existiram figuras que deixaram marcas em nossa memória.
Lembro-me, por exemplo, quando criança, de um cidadão de origem árabe, sempre portando um chapéu, ambulante, que vendia gravatas. Parte delas trazia ele pendurada num dos braços, e as outras, na mala. Então, o povo, fazendo uma mistura de “braço” com “preço”, imitando o sotaque original, dizia, lá vem o “breço fixo”.
De vez em quando, aparecia algum vendedor malandro, com sua mala recheada de “produtos importados”. Certa ocasião, Dona Adelina, minha mãe, atendendo a campainha de casa, deu atenção a um deles, que trazia casimiras inglesas. Ingênua, minha mãe caiu na conversa do vigarista, comprando dois cortes. Como eu estava começando a frequentar bailes, festinhas, enfim, já participando da vida social da cidade, me presenteou os tecidos (?). Quando levei ao alfaiate conhecido, o Redondo, vendo as “casimiras”, disse-me:
- Não serve nem para pano de engraxate!
Por falar em casimira, eu já casado, funcionário da Prefeitura de São Bernardo do Campo, conhecia um cidadão que vendia casimira, inclusive, para meu pai. Esse era sério, de família de Santo André. Seu pai, também, exercera a mesma atividade. Volta e meia aparecia no meu trabalho, com sua mala de amostras. Após escolhido o tecido, ia ele buscá-lo em São Paulo. A compra podia ser paga em suaves prestações. Mário Colla, esse seu nome.
Já o citei, noutra crônica, porque ele, aos sábados, quando o time de futebol do Panelinha jogava lá no campo do Casa Branca, depois da estrada de ferro, sempre comparecia, com a intenção não de jogar, mas de ser convidado para apitar a partida. Como nunca havia outro pretendente, acabava sendo o juiz. Não era lá essas coisas, mas dava para o gasto. Muitas vezes precisamos socorrê-lo, para não sofrer agressão. Pessoalmente, era uma figura, apesar da imensa bondade.
O Treze era outra figura inesquecível. Vivia vestido de branco, como se fosse um médico, dentista. O que destoava no uniforme era sua inseparável pasta preta. Muito honesto em seu mister. Já faz um bom tempo que não o vejo. Pode, até, ou estar doente, ou nem mais viver, apesar de não ter muita idade. Desapareceu da redondeza de onde moro. Sua atividade? Cambista de jogo do bicho!
Apesar de não o achar pitoresco, mas por ter me feito recordar dos tempos da Cruzada Eucarística, quando o vi recentemente na missa da Igreja Rosa, cito o Tarcisio, um cidadão de cor que, naquela época de minha infância, fundou a Juventude Operária Católica (JOC), e que, conforme corria a fama, era tido como comunista.
Partido ilegal naquele tempo.