MERCEARIA DOM BOSCO

MERCEARIA DOM BOSCO

Ela marcou época. Revolucionou o comércio de alimentos de Santo André. Foi em fins dos anos 40 que a Mercearia Dom Bosco apareceu. A principal atração, sem dúvida, eram as balinhas da Sönksen, que eram vendidas a granel, com uma concha como medida. Impressionante, pois vinha gente de toda cidade para comprá-las.

A clientela de maior número eram os alemães aqui radicados. Pudera, ela vendia pães típicos, como o de centeio, o preto, os frios, a salsicha, o kassller, o esbein, a manteiga Peter. Em Santo André, viviam uns anões, ao que parece vindos com um circo, e não puderam daqui sair, em virtude da guerra. Havia cerca de 20, entre homens e mulheres. Moravam ali pelas redondezas onde hoje está o Hospital Brasil, no Clube Alemão, famoso por suas festas típicas. Todo dia passavam pela mercearia, para adquirir os produtos de origem de seu país.

Grande cliente, também, foi a Casa Publicadora, estabelecida onde hoje é o Shopping ABC, antigo Mappin.

A Dom Bosco, assim denominada em homenagem ao fundador da ordem dos salesianos, foi pioneira em muitas coisas na cidade. Foi a primeira a vender frios cortados e embalados na hora. Outra primazia, foi a de vender frango limpo. A proprietária, em fins de semana, levantava de madrugada para prepará-los. Isto é, eram aves frescas, sem congelamento.

A história da Mercearia Dom Bosco foi assim.

O Sebastião, meu irmão, após permanecer 4 anos no internato do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, voltou a estudar em Santo André, indo para o Américo Brasiliense. Mas, positivamente, o negócio dele não era estudar. Meu pai, percebendo essa fraqueza, resolveu abrir um comércio, que foi a mercearia, para que esse filho tivesse alguma atividade, não ficasse por ai sem fazer nada. O Sebastião foi uma revelação como comerciante. Não só pelo esforço, como, também, pelo tirocínio. Vislumbrou o sucesso, se optasse por estabelecer um nível de produtos de alta qualidade. Seguiu esse caminho, e acertou em cheio. Como ele era menor, o estabelecimento ficou em nome de Da. Adelina, minha mãe; porém, ele era o cabeça. Com a ajuda de minha cunhada Neide, que já havia trabalhado em outro estabelecimento congênere, aliás, também de boa qualidade, a mercearia cresceu, e logo, logo, precisou ser ampliada, tomando um salão vizinho.

O sucesso resultou em meu pai adquirir vários imóveis na redondeza, e possibilitando, até, o custeio dos meus estudos e de meu irmão caçula, em renomado colégio da capital de São Paulo. Pena que ela teve vida efêmera, pois durou, apenas, uns 4 anos.

Se, hoje possuo profissão de nível superior e, sem falsa modéstia, se me julgo um profissional realizado, com um grau de cultura bem sólido, devo muito à Mercearia Dom Bosco e, em consequência, grande parte disso, ao Sebastião.

Então, se me permitem, vou aproveitar para fazer uma homenagem a esse meu irmão, ao qual sempre dediquei um carinho especial. Na realidade, ele foi o irmão com quem mais tive relação. Apesar da diferença de 5 anos na idade, fazia de mim um verdadeiro companheiro, levando-me aos jogos em que ele participava (bom ponta esquerda!), me fez sampaulino, e toda vez que a idade permitia, levava-me onde quer que fosse. Tenho muita saudade dele, em especial, e sabendo, com toda certeza, que ele se encontra no mais feliz dos lugares, em recompensa por tudo de bom que fez nesta terra, que usufrua a companhia daqueles bem-aventurados escolhidos por Deus, para gozar as delícias da vida eterna.

Descanse em paz, meu irmão e amigo!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 05/08/2012
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