AS PERNAS

Ela entrou, irrequieta, na sala. Caminhava, balançava-se, dava pulinhos, mexia cabeça, braços ou corpo inteiro. Era do tipo hiperativa. Cumprimentamo-nos e permanecemos conversando por um curto espaço de tempo, afastou-se de mim. Segundos depois a vi saltando as carteiras e cadeiras da sala. Pulou uma, duas, três, cinco, retornou saltando pelas cadeiras do meio da sala, depois as da frente, de novo as do meio e as do fundo. Divertiu assim por alguns minutos enquanto eu falava ao telefone com minha mãe. Abriu uma janela, depois a outra, observou o tempo. Aproximou-se de uma delas, meteu a cabeça para fora, olhou para a direita e para a esquerda. Aproximou-se da segunda e fez o mesmo, como que para certificar-se de algo. Em seguida virou-se para mim e fez sinal de silencio colocando o dedo indicador na frente dos lábios e falou em tom mais baixo do que o de costume para eu não contar para ninguém o que se passaria ali. Pensei comigo: O que essa louquinha fará, agora? Antes mesmo de completar meu pensamento lá estava ela saltando a janela, e isso, que estávamos no 3ºandar do prédio. Ela ficou por ali andando sobre a marquise, pensando não sei o quê e espiando-me, ora por uma, ora por outra abertura, com aquela cara de moleque. Logo, logo ela sentiu-se satisfeita com sua aventura e saltou, novamente, para dentro da sala.

Nossa primeira aula começaria em alguns minutos, mas nem professor, nem outros alunos haviam chegado, ainda. Somente ela, eu e minha cadeira de rodas.

DoraSilva
Enviado por DoraSilva em 04/08/2012
Reeditado em 04/08/2012
Código do texto: T3813682
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