133 - TODAS AS MINHAS MÁSCARAS
Se me desnudassem das máscaras rotineiras!
Se do semblante me arrancassem o fingimento!
Se eu pudesse ser eu mesmo, na certa saberia o que é ser e o que é o ser!
Mas como sou uma falsa promessa de uma perfeição inatingível, sigo pela vida assoalhado nos desvirtuados comportamentos, como que se desfilasse por luxuosos salões de vitrines coloridas salpicadas de confetes e serpentinas em rotineiros bailes de fantasias.
Falsário de mim mesmo nesta insanidade desmedida, caminho ostentando na máscara ora grudada no meu rosto, o semblante apropriado na conformidade da etiqueta do momento.
Para agradar aqueles que nunca de mim gostaram, muito menos deles eu gosto ou gostei, concordo com o inconcordável, perdoo o imperdoável, aceito o inaceitável, choro quando todos choram, sorrio quando todos sorriem, aplaudo quando todos aplaudem, mesmo que contrariado sigo submisso na direção exigida, cão servil de pelos lustrosos, sou, obediência cega na coleira perfumada a garrotear o meu pescoço, vou em falsas humildades a lamber mãos orgulhosas que tanto me maltratam.
Fingindo ser aquele que nunca fui, desfilo por entre carrões e mansões que nunca me pertenceram, e aquele que nunca fui se agigantou e se transformou naquele que sempre fui, e esta constante mutação de ares sempre exige uma nova máscara, para que assim eu possa me adequar às circunstâncias da minha representação, neste teatro absurdo da minha existência.
E em meio a tantas máscaras eu me perdi, e agora nesta jornada na busca da minha verdadeira e desconhecida identidade, o espelho não elucida, mas mais me aturde, pois nele aleatoriamente vejo estampando no meu rosto num desfile amalucado, as incontáveis e inúteis máscaras descartadas, e por mais paradoxal que possa parecer, em nenhuma delas eu me identifico e em nenhuma delas eu me encontro, e sinto que me transformei em nada mais do que um amontoado de máscaras!