O COMPETITIVO
Não sei de onde vem a mania, mas toda vez que via alguém fazendo a mesma coisa que eu, eu tinha que ser o melhor. Andava de bicicleta tranquilamente, até que outro ciclista me ultrapassava. Não! Inadmissível! Eu logo corria e ultrapassa o concorrente. Ainda dava aquele olhadinha para trás, só para sentir a sensação da vitória. Ia numa lanchonete, ao meu lado um gordo faminto devorando um hambúrguer. Não! Não admito! Devorava o meu hambúrguer em três bocadas, ao terminar, pedia mais quatro à garçonete. O gordo até parava de mastigar com a boca cheia, me observando. Baba gordo!
Em tudo era assim, se alguém arrotava, o meu arroto era o mais alto; se alguém tossia, o meu era mais pigarrento; se alguém gargalhava, o meu era de dar inveja no Sílvio Santos. Nem reparava nessa mania de competir, até que um dia quis tirar proveito dessa qualidade nata, instintiva.
Lendo um jornal de 30 páginas, que aliás, o li em apenas 3 minutos, pois havia outros leitores ao meu lado; noticiava uma corrida rústica na orla da lagoa da pampulha. Era minha chance de provar que essa mania de competir é o meu espírito de campeão. No dia seguinte, fui ao local de inscrição, sendo inclusive, o primeiro inscrito na corrida rústica.
Eis o esperado dia da corrida. Todos reconhecerão o campeão. No total, foram 520 inscritos. 519 derrotados. Comigo é assim, já entro ganhando. Começa a corrida, 520 corredores largam para um total de 20 voltas na orla da lagoa. Fim de corrida, 519 completam a prova. Meu fôlego acabou na terceira volta; fiquei para trás.
Moral: É fácil ser o melhor diante dos que não sabem que estão competindo com você.