Cale-se, Poeta!!!

Cale-se, Poeta!!!

Talvez, a política queira-me nulo, sujeito sem opinião e sem voz ativa. Percebo que tenho que ser omisso, passivo e complacente, seguir o curso do rio e jamais andar contra a corrente.

Ando querendo falar, mas calado e anulado eu opino melhor. Anulo no peito toda a dor que posso vir a sofrer com escolhas mal feitas; anulo a decisão de colocar o cetro do poder nas mãos de um rei nu. Anulo, nulo e nulo. Perguntam-me em quem mais confio. Respondo que duvido de tudo e de todos, até de mim – viva Descartes -, por isso, ando com pulgas atrás da orelha e são essas que me fazem coçar, sempre, na hora da decisão.

Minha opinião será muda, minha decisão, talvez, nem influencie o fim do jogo, mas, tenho a certeza que, mesmo calado, bradarei mais alto que aqueles que vociferam pelas esquinas a “nesciência” e a massificação. Não propagarei minha decisão, tampouco, farei ressoar a minha voz, ativa, altiva, e, por incrível que pareça, neste instante, altista. Talvez, eu abnegue a tudo que venho pregando, mas não quero compactuar com um paroxismo que achincalha e coloca uma venda na continuação. Sinto-me, hoje, filho da ditadura, pois estou querendo a não opção e, sim, o cálice amargo do silêncio. Não cantarei as cantilenas, nem torcerei para ser bisado o verso mal escrito. Quero um compasso de silêncio e pausa!

Votar é se matar aos poucos! É querer colher primaveras e sem querer semear erva-daninha. Viva a democracia! Viva o poder de escolha e viva também a minha voz calada. Estou me censurando, colocando uma tarja preta na minha boca, mas, cuidado, minha cabeça pensa e é ela quem grita a minha indignação. Mas, por enquanto, estou cantando baixinho: Pai, afasta de mim este cálice... Viva a minha decisão de nada e a minha opinião sem força. Cale-se, Poeta!!!

Mário Paternostro