As divertidas eleições municipais
Vivemos em um país democrático, onde a cada dois anos, somos “convidados” a participar do “direito” cívico de escolher, através do voto secreto, pessoas que irão nos representar e governar o nosso país, nosso estado e nossa cidade por um determinado período de tempo.
As eleições em nosso país são divididas em duas; Enquanto em uma elegemos os candidatos aos cargos de Presidente da República, Governador de Estado, Deputados Federais e Estaduais e Senadores na outra elegemos o prefeito e os vereadores da nossa cidade.
Devo confessar que adoro as eleições municipais. Acho-as divertidíssimas. Enquanto nas eleições para cargos majoritários (presidente, governadores, deputados e senadores) muitas vezes votamos em pessoas que sequer conhecemos, nas eleições municipais temos a oportunidade de votar em pessoas próximas a nós. Pessoas que conhecemos, e muito. Muito bem.
Tem o cara da farmácia. O dono da padaria. O treinador da escolinha futebol. O guarda do clube. O pedreiro. O dono do supermercado. O policial militar. A professora do jardim. O presidente do bairro. O nosso vizinho. Enfim pessoas que conhecemos pessoalmente, quando não, de vista ou de fama. Alguns, temos até alguma ligação com eles, seja de amor, ou de ódio. Mas temos.
O legal destas eleições é ver as pessoas se esforçando para serem sociáveis. Populares. De uma hora para outra a cidade muda. O povo muda, principalmente, aqueles que correm atrás dos nossos votos preciosos. A cordialidade impera.
De repente, todos cumprimentam você. Todos se lembram de você.
Sabe aquele cara que estudou com você na 5ª série e passou os últimos trinta anos te ignorando? Agora, é seu melhor amigo. Passou os últimos anos te procurando desesperadamente. (O pior é que, nos últimos anos ele passou todos os dias em frente à sua casa e simplesmente ignorava sua presença. Nem balançava a cabeça em sinal de cumprimento.). Sabe aquela gostosona que nunca te deu bola. Ela continua a não te dar bola, mas, agora, ela te cumprimenta. Até o seu Manoel da padaria passar a pendurar suas compras (Coitado dele.).
As eleições municipais deveriam acontecer todos os anos. A cidade, com certeza irá agradecer, a não ser pela sujeira deixada pelos “santinhos” dos candidatos. Mas, veja bem, todo mundo mais legal. Todo mundo mais tolerante. Mais amigo. Mais humano. Sem contar com a alegria dos times de várzea que, nunca mais jogariam futebol com camisas e redes rasgadas, ou, bolas velhas e remendadas. Seria uma beleza. Lindo.
Sem contar com os shows de stand up comedy, que são os comícios. Já pensou uma cidade onde quase todos os dias você tem um show de comédia para assistir. Por que comício em eleição municipal é o maior show.
São coisas do arco da velha. É cada mentira deslavada que chega a ser uma piada. Tem o vagabundo que posa de trabalhador. O bandido que clama por justiça. O nó cego que vive posando de honesto. Eles ficam em cima dos palanques contando lorota, enquanto você embaixo fica pensando. “Esse não, esse aí faz cinco anos que me deve”. “Não foi esse que desviou o dinheiro da merenda escolar?”. “E esse daí que passou o irmão para trás em um negócio”. “Esse, nem pensar, tava vendendo terreno no céu até outro dia”. “E esse que vendeu um mesmo terreno a cinco pessoas outro dia, e o que é pior, o terreno nem era dele”. “Esse, esse aí é o meu irmão pô, eu não votaria nele. Espera aí, meu irmão...”.
O pior é que, como nas eleições que, sequer conhecemos os candidatos, nessa, muitas vezes escolhemos mal nossos representantes. Muitas vezes caímos nas suas lorotas. Somos enganados por suas artimanhas. E acabamos vendendo nosso voto, seja para aquele que deu um jogo de camisa e bolas para o nosso time. Seja para aquele que pagou uma cervejinha no barzinho do bairro. Ou para aquele que se comprometeu a nos beneficiar de alguma forma, num futuro bem próximo. (Ou para o nosso irmão.).
E tudo, fica sempre igual, infelizmente.
Mais, que é divertido, isso é. Ô se é.
Marc Souz (escritor)