Tragédias do cotidiano

    Não gosto de falar sobre tragédias, nem tampouco de escrever sobre elas, mas, infelizmente, de segundo em segundo elas acontecem. A todo momento a mídia traz um novo acontecimento trágico: acidentes de todo tipo, furacões, terremotos, enchentes, tsunamis, assassinatos, latrocínios, sequestros e uma infinidade de eventos que comovem, assustam, preocupam. Os noticiários do rádio e da TV apresentam, em sua maioria, notícias negativas. Os programas de TV, alguns extremamente sensacionalistas, exibem casos terríveis durante uma tarde inteira. Pior é constatar que dão audiência, isso significa que as pessoas têm uma necessidade mórbida de “se divertir” à custa do drama de outras. Há casos que ocupam os noticiários durante semanas, ou meses, até que aconteça outro pior. Por mais um período enorme ficam explorando aquele assunto macabro que faz tão mal, tanto para as pessoas envolvidas quanto para aquelas que assistem sem nada poder fazer. Eu me recuso a assistir. É egoísmo? Pode ser. Mas prefiro me proteger dos pesadelos que tenho a cada vez que vejo uma reportagem de uma grande tragédia.

    É impressionante como tem gente que sente prazer em saber e comentar sobre a desgraça alheia! Há uns dois anos, eu assinava um Jornal da minha cidade que era, e ainda é, distribuído toda quinta-feira. Minha vizinha de portão sempre o pedia emprestado. Mas ela não queria ler as notícias gerais, não se interessava pelas matérias que falavam sobre cultura, lazer ou sobre a política local. Ela me pedia apenas a página policial, onde eram noticiados, evidentemente, os casos de polícia como roubos, assaltos, prisões de traficantes, enfim, os crimes ocorridos na semana. Quando o jornal trazia algum episódio mais grave como assassinato ou acidente de trânsito com vítimas fatais, ela fazia o seguinte comentário: “Nossa, essa semana o jornal está ótimo!” Sinceramente, eu não sabia se sentia raiva ou pena da mulher. Como pode uma pessoa, achar que um jornal só é bom quando publica desgraças? “Vampira!”

    Quando venceu o prazo de minha assinatura eu não renovei. Acredite se quiser, minha vizinha ficou aborrecida comigo. Além de sádica, por viver dos sofrimentos dos outros, também era exploradora, por alimentar sua neurose com o meu dinheiro. Pode?! Há um ano ela se mudou e nunca mais a vi, mas imagino que ainda tenha o hábito doentio de procurar saber o que a página policial traz de “novidade”. Infelizmente, conheço muitas pessoas assim.

    Outro dia, encontrei uma velha conhecida em um Banco. Nos poucos minutos em que conversamos, ela me contou três casos de morte, inclusive, o da policial Fabiana, nossa conterrânea, que foi vítima do ataque de traficantes na UPP do morro do Alemão, no Rio de Janeiro. É óbvio que fiquei chocada, afinal saber que uma jovem que nasceu e cresceu em nossa cidade foi morta de maneira tão brutal, chocou a população toda. Não houve como não se comover com isso, principalmente porque ela era de uma família conhecida e muito querida.  Porém, o mais chocante foi o jeito de a pessoa contar, parecia que o fazia com satisfação, com a sensação de vitória por ser a primeira a noticiar. A impressão que senti foi a de estar diante de uma jornalista da imprensa marrom dando um furo de reportagem. Absurdo!

    Ultimamente, tenho tentado me esquivar de pessoas que só falam em desgraça, que só vivem reclamando da vida, que só falam em doença, que só sabem falar da vida alheia. Não preciso disso e não quero isso. Lamento que algumas pessoas precisem e querem isso para as suas vidas. Eu não! Zelo por minha saúde mental.

    As tragédias vão continuar acontecendo. Infelizmente não posso mudar o mundo. Porém, enquanto eu puder me isentar de assistir aos casos em que não posso interferir, vou me isentar. O que posso fazer, e faço, é orar para que as pessoas que passam por grandes tragédias recebam o conforto e a força de Deus. Só Ele pode acolher, confortar, ajudar. E que Ele também tenha compaixão das pessoas sanguessugas, sanguinárias, insensíveis e psicopatas que sobrevivem das tragédias humanas. Amém!
 
 
 
 
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 02/08/2012
Reeditado em 04/08/2012
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