Ela fazia tudo tão certinho.

Ela fazia tudo tão certinho, por que ficou com mal de Alzheimer?

Ela morava no prédio onde moro na Vila Madalena. Com mais de oitenta anos, ela fazia trabalho voluntário num bairro bem distante. Ela me disse que trabalhava numa creche, num bazar beneficente. Um dia perguntei lhe por que ela ia trabalhar tão longe. Ela me disse que gostava muitos das pessoas que trabalhavam lá. Ela trabalhava três dias por semana, fazia caminhada comigo num grupo organizado pelo posto de saúde, fazia ginástica, saía para almoçar fora todos os dias e não escolhia um restaurante mais perto de casa, e ia a pé além de calçar um sapato de salto. Andava muito bem penteada, unhas bem feita e dizia para mim que ela mesma fazia escova em seus cabelos. Ela estava sempre elegante e morava sozinha. Quando ela completou oitenta e quatro anos, ela me disse que agora que ela fez oitenta e quatro anos, ela ia passar o Natal na casa do filho, seu único filho que sempre veio passar o Natal com ela. Após alguns meses que ela estava com oitenta e quatro anos, ela interfonou para o zelador para chamar o chaveiro para abrir a porta da casa dela, por que ela queria sair e estava trancada. Quando o chaveiro chegou com o zelador, viu que a chave da casa dela estava com ela. Aí perceberam que ela estava confusa e chamaram o filho dela. Ele veio, viu que ela estava mesmo doente, com mal de Alzheimer. Passados alguns dias eu encontrei com a agente de saúde que vinha no nosso prédio e a conhecia muito bem e ela me disse: “Ela fazia tudo tão certinho, não sei como ficou com esse mal”.