Mãe
Em horas de não se fazer nada o avô acordava da sesta tirada após o almoço e viu que dividia o quarto com a filha ao computador e o neto ao lado dela, esperando pela mãe e esperando por aprender a andar e a crescer.
A criança de quatro meses balbuciava coisas ininteligíveis para o avô, mas assimiladas perfeitamente pela sua mãe, que respondia a tudo, de imediato.
-É filhinho, o papai saiu para trabalhar, mas não demora e ele estará de volta para você.
-Babuh, urgh....
-Tinininho, a mamãe tem que fazer esta pesquisa, ainda hoje, devo entregá-la na faculdade amanhã.
-Ashua, babashin
-Ah, porquerinha!!!! Você mamou faz tão pouco tempo e já quer comer de novo?
A risadinha da criança foi em esperanto, acessível a todos, pois o avô também entendeu a resposta gostosa do bebê e percebeu que o pequeno queria tirar a mãe daquilo que ela fazia.
-Xaropinho, a mamãe está aqui do seu lado, ajude a mamãe.....
Como Fernando Pessoa, a criança tinha dezenas de heterônimos, e a todos respondia, sabendo que a mãe a ele se dirigia; ficava a impressão que naquela tenra idade não se percebia outras pessoas no ambiente além do todo amado, ele, e da toda amando, ela...
-Está bem, eu vou lhe dar mais um pouquinho daquela banana amassadinha e depois você vai ter de esperar a hora de mamar, está bem?
-Adighin, janajá...
O avô acreditava ter entendido o que o bebê havia respondido, mas para que os segredos que a vida reserva para um filho de quatro meses e sua mãe nunca fossem decifrados, a criança dormiu, e um sinal de sorriso desenhou-se no rosto da mãe, que com certeza dera a ordem para ele dormir, antes mesmo de comer a bananinha.
Sabendo que sinais maternos, que fazem da mãe um anjo protetor, nunca serão ensinados a quem os assiste, o avô também voltou a dormir, prometendo. a si mesmo. que ao acordar iria reclamar sua vez de amar aquela criança.