A Rio Mais 20 e a Eco 92

Viveu-se outra vez a euforia de uma conferência ecológica internacional. Foi a muito pouco falada Rio+20, nome com que, abreviadamente, se chamou a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na cidade do Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012. Convocada pela Organização das Nações Unidas, comemorou o aniversário de 20 anos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, abreviadamente, Eco 92, daí o nome Rio Mais 20. O fato é que a Eco 92 foi muito mais falada que a Rio+20, não sei por que e tampouco quero saber. Não é meu propósito. Não venho aqui me aventurar nesse tipo de análise.

 

Pois bem. Como costume fazer, guardo, zelosa e carinhosamente, um exemplar da edição especial da revista Veja sobre a primeira conferência, qual seja, a edição 1.237, ano 25, n.º 23, com data de 3 de junho de 1992. A chamada de capa é “O MUNDO SE ENCONTRA NO RIO – Estrelas, temas e brigas da maior conferência ecológica da História”, e a revista, em longa reportagem e texto benfeito, dedicou as páginas 52 a 101 ao evento, que se realizou de 3 a 12 de junho de 1992.

 

Megaconferência ou megarreunião, a Eco 92 foi inesquecível e apaixonante para quem a viveu de perto (e até mesmo de longe, como foi o meu caso). Aliás, na página 54, a revista já dizia que “as pessoas estarão impedidas de esquecer o Rio de Janeiro de junho de 1992”. Eu, conquanto tenha assistido de longe, aqui da Amazônia, pela tevê e pela imprensa, nunca o esqueci. Foi inesquecível, não há como negar. Dividiu, ainda que esse não fosse o propósito, a História em antes e depois da Eco 92. Não sei, todavia, se temos mais que comemorar, ou mais que lamentar.

 

Não é que não tenham ocorrido mudanças para melhor em vários sentidos e segmentos: ocorreram, sim, mudanças significativas. O problema é que foram, não raro, muito tímidas, até porque demandam alterações de mentalidade, de cunho cultural, legal e de outros quilates, as quais necessitam de décadas para que se aperfeiçoem e produzam efeitos concretos, palpáveis. Tenho, por isso, esperança, que espero não seja malograda. Não é impossível, mas é indispensável o engajamento sério e permanente de todos os segmentos, porque não se trata tão somente da visão romântica ou alienada de ecologistas, mas, sim, do interesse de todos os humanos, por uma questão de sobrevivência com qualidade de vida.

 

“Os homens não sobreviverão se os oceanos morrerem”, aprendi isso nos anos dourados da adolescência. Mas, malgrado tudo isso, muitos, por exemplo, ainda praticam poluição sonora com equipamentos e instrumentos sonoros em alto volume e jogam, relaxada e descaradamente, lixo nas ruas e no rio, com a conivência, quando não a omissão, dos agentes de um Estado inerte, omisso, corrupto e criminoso. Ora, se isso ocorre em relação a tais práticas, que imaginar em relação às práticas criminosas ou contravencionais que envolvem altíssimos interesses econômicos e financeiros? É bom, sinceramente, nem imaginar!

 

A despeito disso, por superficial que pareça, não é meu desejo aqui falar de acertos e desacertos ecológicos, esperanças e desesperanças nem, ainda, comparar, técnica e sociologicamente ou de qualquer forma, a Rio Mais 20 com a Eco 92. Não, não foi esse o meu propósito. Deixo essa análise para os mais experimentados e mais afeitos a essas tarefas. Queria apenas registrar ligeira e vagamente, como o fiz, no exíguo espaço desta crônica, as minhas reminiscências. Falando de conforto e meio ambiente, lembra-me sempre meu saudoso avô José Monteiro da Silva, que dizia gostar mesmo era de sombra e água fresca.

 

Saudosista assumido, olho de vez em quando a edição especial da Veja, para matar (ou aumentar?) a saudade, não só da euforia vivida à época por todos, mas também de situações pessoais minhas: tinha 32 anos e acabara de sair de uma separação conjugal. Morava sozinho com a minha irmã caçula, Ednalva, e morria de saudade do até então meu único filho, Douglas, que contava apenas 5 anos e fora, pelas circunstâncias, levado de mim para Bragança, Estado do Pará, enquanto eu ficara em Xinguara, feito gato apaixonado na tapera. Eram tempos de esperança, embora também sentisse tristeza.