manhã de outono

Fazia manhã de outono, as folhas caiam paulatinamente das árvores, a brisa era suave, o ar tinha um aspecto robusto, as crianças corriam na pracinha, as babás dialogavam entre si, as pessoas transitavam robóticas nas ruas, absortas e afásicas.

Carros barulhentos e frenéticos passando, um vira-lata latindo na esquina, um Office boy apressado. Pardaizinhos sobrevoando a copa das arvores. Nesse momento, a vida continha a trivial cara da sociedade civilizada, mas os teus olhos castigados surgiram em meio aquela manhã contrastando a paisagem, era um andarilho, uma pessoa qualquer e sem valor para muitos, um pobre diabo que perambula nas ruas, catando as escórias da sociedade, suas miseráveis migalhas subumanas.

Mas o que venho eu, falar-lhe sobre vil ser humano marginalizado, pilhérias de fato... Desgraças marcadas numa vida medonha e árdua. Mas gente que é gente tem história, tem passos marcados no tempo, dores e lágrimas despejadas. Porque a vida, sobretudo, é luta diária, é um dia e outro mais de caminhada!

E esse vil ser humano despertando na calçada, lançou-me o olhar singelo e contemplador de quem por algum motivo, acordou e viu a luz do dia e se sentiu feliz por isso.

É indescritível a sensação de ver no olhar de uma pessoa uma chama vibrante de esperança e de alegria, mesmo diante de circunstancias tão adversas. Levantou o olhar mais uma vez e sorria pra mim, como quem dissesse um bom dia afetuoso. Olhou para um lado, para outro, recolhendo os papelões que usava como cobertor, o litro com substancia que julguei a princípio ser cachaça, mas depois, observei que lavava o rosto com líquido, que decerto era água, ratifiquei-me!

Aquele ser humano na calçada agora em pé, de aspecto sujo, a barba comprida, os dentes estragados as roupas velhas e os sapatos gastos.

Foi recolhendo tudo, migalhas de coragem, cacos de si mesmo. Fiquei imaginando o que levara ate ali, quantas tristezas detinham suas palpébras, quantas desgraças traziam marcadas nas tênues rugas da face... E mesmo assim continuava a andar, cumprindo um caminho difícil de compreender, talvez Deus tenha guardado mas a frente um final menos trágico para a sua sôfrega vida, mas é tudo suposições da minha cabeça.

Vivemos sempre buscando um caminho que leve há uma vida de amor e glórias... Mas é tudo tão imprevisível, somos insconstantes e desleais em algum momento e isso define o prumo do trajeto.

Não sabemos para onde vamos, mas continuamos, como aquele ser humano sofrido que anda sem rumo, pairando na escuridão e ainda sorri contemplando o nascer do sol.

Luk Ramos
Enviado por Luk Ramos em 01/08/2012
Código do texto: T3808420
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