Vozes e sussurros

- Good afternoon, teacher!

Metade da turma grita a saudação, três ou quatro alunos terminam de merendar, um outro remexe a cesta do lixo, dois jogam pulso, umas meninas...

- Posso apagar o quadro, professora?

- Não, eu ainda não terminei de copiar!

- Puxa, que atrasada!

- Deixa eu, professora, eu...

Alguns alunos relutantes sentam-se. A contragosto, abrem o caderno.

- Professora, não acho a minha caneta.

- Quê? Não fica olhando pra mim, não fui eu, não.

Uma menina loira se abaixa para procurar. Outra exclama:

- Eu vi o Reinaldo com ela, professora.

- Eu também.

- Fofoca dessas gurias. Eu, hein!

- Olha aqui, achei!

- Não é essa, é uma azul, com ponta fininha.

Os olhares levantam-se para o quadro, descem para o caderno.

- Que letra é aquela, isso não tem em brasileiro, né?

- Eu botei um jota, nem me lembrei dessa letra aí...

- Ih, seu bobo, a professora já ensinou.

Um minuto de silêncio. Um minuto, contado no relógio, faltando três segundos:

- Professora, posso botar a resposta no quadro?

- Ela sempre quer ir.

- Deixa eu, tá, fessora?

- Sorinha, eu aqui!

- Chama pelo número. Eu sou o vinte e...

- Bobo, fica dizendo, ela não vai te chamar.

Um menino da frente ergue-se, vai até o fundo da sala, faz a volta devagar e vem pedir material para outro, junto à janela. Uma menina mais de trás põe o braço por cima do ombro da colega (que arrastou a sua cadeira para perto) e murmura algo em seu ouvido. A outra dá risadinhas abafadas.

- Ih! Já começou.

- A professora de português separou elas.

- Tão sempre com risinhos.

- E vocês, que ficam o tempo todo enchendo...

- Eles já foram duas vezes para a direção esta semana, professora.

O menino da segunda fila volta a remexer a cesta do lixo com um toco de régua:

- Já vai, professora, já vai. Jogaram aqui a minha borracha.

- Deixa que eu ajudo.

- Ele tá só fazendo tempo.

Os cinqüenta minutos deslizam entre queixas, pedidos, risos e conversinhas.

- Que horas são, professora?

- Ah! em inglês eu não entendo!

Soa a campainha. Sobe no ar um grito de alívio. E, enquanto vinte alunos jogam-se para fora, uma guriazinha ergue a mão e abre um sorriso:

- Bye, bye...

As palavras e o gesto encerram mais uma aula de inglês para a quarta série.