FILHO DA PUTA
CORDEL:
A chuva vem, não tem pra quê desesperar
Se não há jardim suficiente para você,
Cuide de nascer em outro lugar
Cuide de caçar pra não morrer
Eu já vi nascer flor no telhado de minha casa
Já vi nascer burrego em cima da linha do trem
Já vi galo de briga brigar sem asa
E Já vi galinha na panela morrer também
Já vi nascer filho burro de pessoa culta
Já vi nascer cabra safado da barriga de muié sinhá;
Já vi cabra honesto nascer da barriga de uma puta
E já vi muita puta com cabra otário se casar
Pois então, nem tudo que parece ser é aquilo que é
Já vi muito filho da puta ser filho de mulher honesta
E muito cabra honesto ser filho de puta que não presta
Nem todo filho de peixe, peixinho é, né?
O problema não é a semente o fruto dar
É o chão que vai engolir e a água que vai regar caroço.
Mas às vezes não é o chão, nem a água que vai aguar
Às vezes é a corda que não chega no fundo do poço
Você só tem que cavar, escavacar...
Até dar uma dor nas costas de não aguentar
Você só tem que cavar, cavar, cavar...
E Escavacar...
O medo dos fortes
É o medo maior de ser frouxo, cansar e desistir
E o maior medo dos fracos
É o medo de tentar quando se é capaz de conseguir
Não é a sede, foi o rio que secou
Não é o calor, foi a chuva que não caiu
Não é o frio, foi o fogo que apagou
Não é só fome, é estômago vazio
Não foi desgraça, é descaso
Não é riqueza, foi ilusão
Não foi luxo, é atraso
Não é miséria, foi corrupção