Conto de fadas para homens

A sentença mais injusta que percorre o imaginário popular é que as mulheres são mais românticas que os homens.

Mentira deslavada. Os homens, com toda a certeza, são infinitamente mais românticos que as mulheres. E tenho dito.

Elas até podem ser mais sonhadoras e idealizadoras em certo ponto. Concordo. Só que o que define alguém não é o que ela pensa, mas o que ela faz. Sou escritor porque escrevo. Você é leitor porque seus olhos percorrem estas linhas. O homem é romântico porque é ele que compra flores, proporciona jantares, compões poesias e pede perdão.

Existe uma desigualdade muito grande no cenário social quando nos referimos a romantismo.

O cinema atesta isso. As inúmeras comédias românticas - os clássicos filmes de mulherzinha - ilustram perfeitamente os contos de fadas contemporâneos. A garota sofre por amor e proporciona muitas risadas e lágrimas.

E os homens onde ficam? Também deveriam ter direito a um conto de fadas.

Isso me faz refletir: como seria um conto de fadas versão macho?

O inicio tem que ser como qualquer inicio. Acaso.

Alguém o apresenta à garotinha meiga enquanto ele está de olho na mulher engarrafamento - aquelas de parar o trânsito. Papo vai, papo vem e ele descobre inúmeras afinidades com a mocinha. A troca de contatos é casual. Afinal, seus olhos estão na outra.

Os dias passam, eles voltam a conversar e decidem se encontrar. Ela vai auxiliá-lo na compra de novas camisas. Ele quer transformar o guarda-roupa e nada melhor do que contar com o apoio de uma mulher disposta.

Na pausa para o jantar na praça de alimentação do shopping ele se encanta ainda mais com a princesinha. Percebe o brilho diferenciado de seu olhar e se deslumbra com seu lindo sorriso.

As semanas seguem, a amizade desabrocha e ele se surpreende com a sinceridade que tem se relacionado com a bela. Apesar de seus instintos, não havia segundas intenções com a amiga. A esta altura a mulher da avenida seguiu seu caminho e desapareceu da mente e do coração do rapaz.

Uma noite enquanto ele se rasgava em elogios à amiga para um conhecido a luz brilhou e o esclarecimento surgiu através de uma questão: você está gostando dela?

Gostando? se perguntou. Será que estou gostando dela? A resposta foi incisiva e multiplicou e solidificou o sentimento: sim, estou gostando dela e talvez até mais.

Estou apaixonado, concluiu finalmente.

O que fazer agora? Deveria se declarar ou guardar o sentimento para si? Cada minuto que passava era uma dor por não poder expressar a ela o que sentia. Precisava falar. Desabafar. Expor sua verdade. Parecia um menininho.

Não pode ser, pensava. Eu estou... amando? É isso? Depois de tanto imaginar, enfim aconteceu?

Criou coragem e a procurou. Depois do restaurante e do cinema abriu seu coração. Explicou como se sentia e suas conclusões a respeito dos sinais que ela dava. Queria que a conversa demonstrasse o quanto suas intenções eram íntegras para com ela. Não era brincadeira. Não queria uma aventura. Queria seu coração.

Até aqui, tudo normal. Ele conheceu a menina, se apaixonou, se questionou e o final feliz se aproxima. Tudo dentro dos conformes de um conto de fadas. Se não fosse por um probleminha.

Ela disse não.

Não sentia o mesmo que ele. Era apenas amizade. Houve uma confusão de sua parte. E o golpe final: ela ainda amava o ex-namorado.

Ele partiu com o coração aos pedaços sem compreender como isso pôde acontecer.

Triste, não?

Esta é a diferença entre um conto de fadas masculino para um feminino. Enquanto a mulher fica com o príncipe encantado no final, o homem é abandonado e trocado pelo tal príncipe encantado.

Não dá mais para contestar o fato de que os homens são mais românticos que as mulheres. Quer algo mais romântico que dor de cotovelo?