Visita na Madrugada

Madrugada alta. Desligo o computador e apago a luz. Vou até o corredor e acendo uma lâmpada. Preciso deixar uma luz acesa porque o nenê pode acordar e se levantar, pode se machucar, bater nos móveis no escuro. Prevenir é melhor que remediar.

Encaminho-me para o quarto. Ele dorme sossegado, tranqüilo. Nem percebeu que levantei e que demorei a voltar. Está muito cansado. Ajeito as roupas da cama, troco as minhas e me deito. Resmungou qualquer coisa que não entendi e, também não dei importância.

A janela está aberta. A veneziana fica sempre aberta pois a luz do dia é nosso despertador. Clareou o quarto a gente acorda. Não tem jeito. Despertador natural é ótimo. A vidraça estava com um vão aberto para deixar o vento passar e refrescar o ambiente. Deitei-me de costas. De onde estava eu avistava o céu azul escuro muito limpo sem nuvens, tranqüilo, quieto. Parecia que também dormia e descasava da lida do dia. Iluminar o mundo não deve ser tarefa fácil. Sempre há uma reclamação a ser feita ou, porque esquentou demais, ou porque não está muito quente, ou porque não apareceu, apareceu no meio do dia de tanto dormir. Será que se perdeu no caminho pois, demorou tanto a aparecer?

De repente, na janela do segundo andar de um prédio de treze andares, que é onde moro, ela surge, ridente, branca, olhando muito fixamente. De onde veio? Como aparece assim? Acenou-me e, saiu lentamente, vagarosamente, silenciosamente. Sem fazer barulho ou chamar a atenção de qualquer um. A não ser os loucos como eu que ficam vivendo suas loucuras, suas bobagens até tarde ou, cedo e ninguém a viu.

Era branca, toda branca, amorfa, e ao mesmo tempo multiforme. Parecia que sorria e dizia para eu dormir que ela cuidaria de mim e dos meus. Cuidaria do mundo. Enquanto ela caminhava eu a achava exuberante naquela roupa que em alguns momentos brilhava como lantejoulas. A dama de branco, pensei comigo. Seja bem vinda.

Essa nuvem branca, passageira da noite, ficou me olhando muito tempo. Meu cansaço por esse tempo desapareceu. Pareceu-me até sentir seu perfume quando entrou no quarto e, através do vento beijou meu rosto desejando boa noite.

Fechei os olhos agradecendo a Deus a preciosa visita, a dádiva que nos oferta e que muitas vezes não vemos e se vemos não valorizamos.