Individualidade

Eu tinha acreditado nas minhas próprias palavras desde o início. Aquele meu olhar tipo "oi, tudo bem?" havia sido a coisa mais sincera que eu havia feito nos últimos tempos. Percebi que dali em diante, vocês desviaram seus focos para outra coisa.

Todos os meus sorrisos eram o alicerce dessa voz; a individualidade é o mal, a individualidade me fez mal. Hoje você pode me parar na rua e cuspir nos meus olhos, mas você ainda acha que isso vai ficar assim? Eu amo essa prisão, mesmo não sabendo ao certo como lidar com isso. E enquanto isso, estou por aí, andando ao encontro daquilo que me faz mal.

Deve ser mais um daqueles assuntos supérfluos...

Dor, quem te convidou?

Tudo passou. Estático, olhando pra porta do porão, lembrando de vocês, das risadas, dos sorrisos e até mesmo das tristezas e das lágrimas; parecia que haviam passado mil anos em uma hora.

- Olha quem está aqui - me disseram, com os olhos marejados e com aquele ar de 'felicidade'.

Eu deveria ter parado de pensar em nós; deveria ter parado de nos desenhar; deveria ter te esquecido de uma vez por todas, deixar pra amanhã o que pode ser feito hoje foi um erro terrível da minha parte. Nisso, queria desconhecer todos vocês.

Esquecer o quão importante vocês foram na minha vida, esquecer as risadas, os apelidos indesejados, as brigas e reconciliações. Queria simplesmente não ter lembrança de ter vivido tudo isso, ao mesmo tempo que eu amei ter vivido tudo isso com vocês. O presente se tornou passado rápido demais e acho que ninguém de nós estava realmente preparado para isso.

E quando eu me dei conta, o presente havia virado passado de novo. E os pensamentos viraram o futuro e agora... bom, agora é o presente.

Parece tão óbvio, mas enxergar as coisas do meu ponto de vista é, aparentemente, tão mais gratificante.

Acreditem ou não, nós somos infinitos. Nós somos invencíveis.

Acreditem ou não, estou sorrindo neste exato momento. O importante é sorrir, mas sempre lembrando que sorriso não é sinônimo de felicidade.

"Eu queria mesmo era derrubar todos vocês de uma vez só. Como um murro, talvez. Com lágrimas é que não seria - pelo menos não desta vez.

Devolva nossos livros, queime as nossas fotos, esqueça cada detalhe de mim, apague meu rosto da tua memória e me esqueça no fundo mais escuro do seu quarto. Evite andar na rua da minha casa e jamais fique triste pensando em nós. Esse presente está sendo tão bem aproveitado que não vale a pena derrubar uma única lágrima só porque tudo isso acaba em poucos dias.

E quem acabou desconversando foi eu. Me levantei, limpei a calça, fitei todos eles com olhos sem expressão e saí.

Eu saí porque eu não aguento mais pensar numa forma de nunca mais pensar no passado."