VIRANDO A PÁGINA.
Virando a página.
Na certa você deve ter ouvido muitas e muitas sentenças de que esta é uma página virada. Não pense que somente se viram páginas lidas ou escritas, porque as em branco, também podem ser viradas. Mais do que podem, devem. Não importa se vai ficar entre duas escritas com letra de forma, garranchos ou não, gramaticamente corretas ou não. Não importa se esta vai ficar entre uma em branco e outra a ser escrita, ou mesmo até na sequencia de uma outra já também deixada em branco.
O mais importante é que antes de virarmos a página, é descobrir se não tínhamos pelo menos uma virgula para nela deixar, ou se ela por acaso tem pelo menos um ponto final. Se não tivermos uma virgula para deixar, será que teríamos o direito de anotar o ponto final?
Nem sempre sabemos definir se cada página que viramos era nossa, só nossa ou também de mais alguém. Se for só nossa, podemos virá-la da maneira que bem entendermos, caso contrário, é melhor primeiro pedir licença para fazê-lo. Devemos lembrar de que se estava sendo escrita a quatro mãos e nada tem, é porque também nossas letras não foram impressas. Poderá estar faltando aquilo que não ouvimos, não dissemos, não lemos ou não escrevemos.
Quem sabe não estarão faltando os dois pontos para abrir uma nova ideia, um ponto e virgula para esperar para depois a decisão. Na maioria das vezes sempre optamos por deixar em reticências, aqueles três potinhos que muito dizem e nada falam. São três, mas que depois cobram como se fossem dez. E o pior é se começarmos a nossa página colocando já no primeiro espaço um ponto, mesmo que não o final, mas mais contundente do que uma virgula, que serviria para lembrar que algo mais poderia ser escrito para completar alguma ideia.
Quando começamos a virar uma página, é preciso assumir que se vai em caminho e busca da próxima. Mesmo que como sempre depois sintamos que poderíamos ter escrito sim, não, até talvez. Mas infelizmente, acabamos mesmo é virando uma página. E em branco.
Antonio Jorge Rettenmaier, Cronista, Escritor e Palestrante. Esta crônica está em mais de cem jornais impressos e eletrônicos no Brasil e exterior. Contatos, ajrs010@gmail.com