No Supermercado
Tenho a mania de observar as pessoas à minha volta, tentando enxergar além das aparências. Acho que adquiri este hábito na infância, ouvindo meu pai ler um anúncio afixado nos bondes e que dizia: “Veja ilustre passageiro/ o belo tipo faceiro/ que o senhor tem a seu lado./ E no entanto acredite/ quase morreu de bronquite/ salvou-o o Rhum Creosotado. Creio que foi a partir daí que comecei a observar os tipos, faceiros ou não, que estavam a meu lado, embora jamais tenha sabido de um que quase morreu de bronquite.
Atualmente observo também carrinhos de supermercado. Eles nos dão valiosas pistas sobre os tipos que os conduzem.
Por exemplo, um carrinho que contém granola, iogurtes e outros produtos light. Tanto pode ser pilotado por uma jovem magrinha quanto por um tipo mais rechonchudo, que lança olhares gulosos para o carrinho ao lado, repleto de chocolates, biscoitos e outras guloseimas. Dá até para sentir a frustração do infeliz que quer, mas não pode, trocar de carrinho.
Agora passa um carrinho abarrotado de latas de cerveja, carvão, carne e salgadinhos. Lá vem churrasco! Se for véspera de feriadão, deve ser churrasco na praia.
Assim vou-me divertindo, driblando a monotonia e a mesmice da ida ao supermercado. Ali também desfilam tipos faceiros, basta ter a curiosidade e observar...