NO CAMARIM
Em frente ao espelho ele avalia suas rugas e pensa:
"Sinais da maturidade".
"Seriam mesmo sinais da maturidade?" "A maturidade não é uma simples imagem. É muito mais do que isso!"
Entre a sua estréia e aquele momento já se haviam passado 50 anos. Apesar disso ainda sentia a mesma insegurança, a mesma apreensão, o mesmo nervosismo,o mesmo medo de errar; de esquecer a letra; não ouvir a introdução...
Naquele momento ele não era o artista, era o homem que estava no comando. "O artista é um passarinho que só sabe querer voar..."
De repente, levantou-se, dirigiu-se até o palco, abriu uma fresta na cortina e observou a platéia lotada. Pensou:
"Meu Deus! Que expectativa! Que responsabilidade! Todo aquele público era para ele, estava lá por causa dele!"
Voltou pro camarim, fez uma prece profundamente sentida e fez o sinal da cruz. Como um milagre, instantaneamente, o artista tomou posse do homem e ele adentrou ao palco com passos firmes, enlevado...
A platéia estava no mais absoluto silêncio.
Naquele instante ele soltou a alma pela voz que ecoou por todos os recintos do teatro resultando numa explosão de gritos quando platéia enlouquecida o aplaudia em pé.
Nesse instante, enquanto ele agradecia, pensou:
"EU SOU UM ARTISTA!"