A insegurança individualiza

Onde estão os vizinhos?

Por trás dos altos muros, das cercas eletrificadas e portões mal-educados que se fecham às suas costas e já não nos deixam cumprimentar.

Se nos vêem são através dos olhares eletrônicos, de câmeras espalhadas por toda parte.

Se nos ouvem, mal reconhecem a voz metalizada pela caixinha do interfone.

Como inocentes enclausurados, pagam a pesada pena da insegurança.

Não desfrutam mais das portas abertas aos que chegam para uma boa conversa.

"Pode entrar, que a casa é sua!"

"Fique à vontade!"

Palavras e gestos cada vez mais reclusos no passado, separados pela frieza dos gradeados, cadeados e alarmes.

Onde estão os vizinhos?

Tentando desfrutar do pouco que lhes resta: uma família, 4 paredes, uma cerca elétrica e tavez um cachorro, simbolizando, quem sabe, o tempo feliz em que se podia dormir com as portas abertas para receber a brisa e os vizinhos que agora também são reféns da individualidade provocada pela insegurança.

O cachorro? Ah, esse também está confinado. E através dos latidos que, para nós anunciam perigo e nos dão uma sensação de segurança, talvez queira dizer: "Abra essa porta! Eu quero correr solto lá fora e brincar com meus vizinhos!".