Pra rir depois de tudo
Às vezes nos damos conta de estarmos rindo de algum fato passado que, na época, era tratado como um “problema sério”, alguma coisa sem solução com sua garganta enorme a nos querer engolir. Isso sempre acontece depois que as nuvens carregadas despejaram sobre nossas vidas as tempestades, conseqüência dos nossos atos. Não muito raro, acabamos de rir da “desgraça”, e deixamos de perceber o quanto forte fomos a ponto de fazermos pilhéria e graça sobre o que nos atormentava.
Seria bom se em todas as crises que vivemos, pudéssemos tratá-las com a importância merecida, mas também com uma dose de humor, mesmo que “negro”, ou sarcástico que seja, mas com uma ponta no futuro que tudo transforma em “comédia”, em pastelão, quando na verdade é mais um roteiro de nossas vidas.
Uma das pressões mais asfixiantes por qual passamos, é quando temos de mudar de endereço com data determinada. Você tem um prazo para desocupar o imóvel e conseguir alugar outro. De preferência para o mesmo bairro onde já habituamos com as pessoas, o comércio e o transporte. No início a procura atinge grau um na escala Richter, que qualifica o nível de energia liberado por um sismo; a procura é ainda lenta e sem muita preocupação.
Com o passar dos dias e com a dificuldade de encontrar um imóvel nas características desejadas, passamos a pensar na possibilidade de morar em um outro bairro, onde as ofertas certamente serão maiores e os preços mais acessíveis. Aí descobrimos que a dificuldade para alugar é a mesma em todos os lugares. Parece que tudo e todos conspiram contra nós. Os dias amanhecem e anoitecem mais rápidos e a energia liberada por um sismo fica cada vez mais variável. Acordamos com grau três e passamos a seis como quem sobe e desce uma escada.
O tempo urge e a grande garganta engolidora faz gargarejo com a frustração de mais um imóvel “perdido” seja pelo excesso de burocracia ou por uma “ficha” na frente como opção de entrega de chaves. Às vezes nos sentimos escalando nuvens. Mas, como diz o ditado: Calma, Deus continua trabalhando! A gente vai sofrendo os abalos sísmicos, mas com fé de que Ele não nos abandonará. E, seja em qualquer bairro , a gente entra com tudo para ser feliz, porque a vida continua e se no fim não vamos sair vivos, pelo menos não morremos com antecedência.