O grande encontro.
Certo dia sai de casa um pouco triste com uma das situações da minha vida.
Caminhando pelas ruas da cidade, vagarosamente percorria o meu trajeto sem me importar com o calor e sol que me queimava impiedosamente.Queria refrescar minhas ideias em pleno verão interiorano.
Tudo corria bem, mas eis que de repente, alguém muito pequeno se aproximou e me constrangeu, pedindo-me ajuda financeira.
Falei para o pequeno que nada possuia naquele momento e o despedi imediatamente. Ele tomou o rumo do outro lado da calçada da rua e, eu até de forma um tanto involuntária me dirigi a um pequeno bar e pedi uma coca para matar a minha sede e ansiedade devido a situação desconfortável que enfretava.
Sentado no banco do bar e sorvendo o refresco, percebi que o pequenino ainda se encontrava naquela área, com as mãos magras e sofridas, estendidas na direção dos transeuntes, tentava em vão ganhar a sua dura vida.
Pessoas bem vestidas passavam e, assim como fizera, ignorava a presença daquele serzinho tão frágil, mas que poderia se tornar um gigante se tivesse uma sorte diferente daquilo que ora vivia.
Carros e pessoas desfilavam á sua frente, mas nada caia nas pobres mãos. Mãozinhas negras e um tanto descascadas, efeito do duro sol que queima os seres vivos sem piedade.
Senti um profundo mal estar ao ver a dura pintura que a vida me apresentava.Minha voz interior começou a dialogar comigo e, aos poucos o meu estado de espírito transformava-se, renovando-se para melhor.
Corri para fora do bar e voltei para casa. Morava a poucas quadras dali. Passei a mão num saco de pão de forma, um litro de leite e chocolate em pó. Decidi que entregaria aquilo ao garoto, pois, tinha certeza que depois de alimentá-lo ficaria em paz consigo e com os problemas que me pertubavam.
Encontrei-o sentado na calçada, com a cabeça abaixada entre as pernas. Toquei-o no ombro e percebi que ele estava um tanto gelado. Como poderia estar daquela forma se o sol e o mormaço da tarde esquentava tudo e a todos?
Dei-lhe dois pequenos empurrões como que na tentativa de chamar-lhe a atenção.Com muito custo ele levantou a cabeça e me olhou com um olhar vazio e descorado.
Falei poucas palavras e pus em suas mãos o combustível da vida. O pequeno aos poucos foi se alimentando e, como num passe de mágica, começava a se fortalecer e adquirir feições mais apresentáveis. Eu estupefato observava aquilo como um espetáculo da vida.
Depois de alimentado, conversamos um pouco e ele me falou de si. Estava na cidade recentemente, morava num barraco perto do córrego, junto de seus três irmãos, do pai e da mãe.Vieram de um lugar longe, somente com as trouxas de roupas e alguns cacarecos.
Lembrei que conhecia o assistente social da cidade. Levei o menino até ele e pedi ajuda. Deixei que conversassem a sós e voltei para a minha casa totalmente transformado.
Passaram-se os meses e em certo dia entrei num supermercado para fazer algumas despesas. Fui recebido por um menino bem vestido e bem cuidado.
O mesmo providenciou um carrinho para que pudesse colocar os produtos. Comecei a andar pelo mercado e, o menino me observava. Num certo ponto ele veio e puxou conversa. Me agradecia por um favor feito, mas eu não me lembrava.
Em seu agradecimento mencionou o café que eu lhe tinha ofertado e a ajuda à família. Já não moravam mais num barraco, mas em num pequeno apartamento habitacional que a prefeitura arrumara.
Sai do mercado olhando a realidade de forma mais colorida e, se escontrarmos outros meninos vagando por aí, recomendo que o chamemos para tomarmos um café ou quiçá um refresco.