Qual é sua história? Parte IV

Arthur, com seus 30 anos, acorda todo dia pontualmente às 6:30 da manhã. Levanta da cama coçando a bunda com os dedos em baixo da cueca e lava seu rosto (mesmo a água estando fria) três vezes.

Dez passos depois e está na cozinha. O cheiro característico da torradeira não lhe inspira mais. Espera suas duas torradas ficarem prontas. Olha em volta e vê as mesmas figuras que decoram aquele espaço: as frutas (postas simetricamente na bandeja), a toalha vermelha cobrindo a mesa, a xícara branca de café desenhando a fumaça, o pote de açúcar que está quase acabando, a manteiga amolecida e o pacote de pão.

O canto de seu lábio fica sujo com as migalhas. O único som vem de sua boca mastigando. O quente do café lhe queima os lábios, ele hesita.

Às 6:50 ele toma banho. Não gosta de suas formas, mas não liga por ser assim. Deixa o sabonete cair no chão inúmeras vezes. Não sabe o porquê de estar tão desligado ultimamente. Seus pensamentos são interrompidos quando o telefone toca.

Seus pés molhados correm para atender. Engano. Uma mistura de raiva e solidão o atinge. A única pessoa que poderia lhe telefonar nessa hora era sua mãe.

Às 7:30 ele escuta o barulho de seu molho de chaves quando fecha a porta de seu apartamento. “São treze degraus até a saída.”, reflete descendo as escadas.

Sente o vento frio de junho lhe cortar o rosto enquanto abre a porta de seu carro.

Ao chegar no trabalho depara-se com Julia (a mulher que é apaixonado por mais de dois anos):

- Bom dia, Arthur. Ela sorri.

- Bom dia, Julia. Ele treme.

Caminha pensando em o que falar para ela. Na verdade ele sempre pensa em o que pensar e nunca chega a conclusão alguma.

Senta-se na sua mesa do escritório e vai digitando toda papelada posta pelo seu chefe minutos antes de chegar. Se não fosse pelo dinheiro não estaria ali agora, mas precisa viver... na verdade, sobreviver.

Às 16:00 sai do trabalho.

Às 16:20 ele escuta o barulho de seu molho de chaves quando abre a porta de seu apartamento. Esquenta uma lasanha no micro-ondas, pega um copo de Coca-cola e senta-se em frente à televisão.

...

Às 21:30 coloca seu pijama preto e deita-se: ele e Julia estão apaixonados, deitados sob um árvore no parque. Ela está lendo seu livro favorito enquanto ele a observa, acariciando seu rosto. Ela sorri e lhe beij...

06:30 da manhã: o despertador toca interrompendo seu devaneio.

Ele levanta e seus verbos começam a repetir novamente.

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 29/07/2012
Reeditado em 08/07/2013
Código do texto: T3803572
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