CÓPIA E ORIGINAL
Em minha infância ouvia minha nonna Assunta, uma italiana da gema, descrever o sabor das cerejas, de sua terra natal, contava como eram doces, cheirosas e belas. Eu, adorava ouvi-la, misturando o idioma italiano com português. Ficava curiosa, porque nunca havia provado essa fruta.
Em nossa vila elas não existiam, o único verdureiro que passava com seu caminhão carregado de caixas de frutas, legumes e verduras, nunca trouxe cerejas, para serem vendidas. Me lembro que esse verdureiro, era japonês, ele e sua esposa, a qual chamávamos de dona Maria, esse não era o nome dela, mas como não conseguíamos pronunciar seu nome, demos-lhe esse.
Somente em idade adulta vim conhecer uma cereja. Lembro-me, que era época de natal, e minha tia Neide, e eu estávamos fazendo compras na quitanda do bairro, em que residíamos na época, e lá estavam elas; vermelhas e belas.
Recordo-me que minha tia, pensou muito, e ainda um pouco mais, antes de pedir um quarto de quilo da exótica fruta. Era muito cara para o nosso bolso.
Não as colocamos nas sacolas, que carregávamos repletas de compras, com medo de amassá-las. Levei o delicado pacotinho em uma das mãos. As cerejas tinham por destino serem servidas dali a poucos dias, na ceia de natal da família.
Esperei ansiosa, para provar a encantadora fruta. A surpresa veio na ceia, ao provar a cereja, me decepcionei. Talvez, isso ocorra sempre que esperamos demais de alguma coisa, seja um filme, um livro, uma pessoa, etc. Aquela cereja não estava nem um pouco doce como eu achava que era, pelo contrário, estava bem aguada, com gosto de nada, sem o perfume e doçura, que minha avó Assunta, tanto falava.
Minha impressão negativa dessa bela fruta, mudou somente agora, quando aqui, em Nova York, comprei pacotes de cerejas. É tempo delas e estão com um precinho de banana, como se diz.
Ao abrir a embalagem e lavá-las, já senti o perfume que tanto encantava minha avó, e ao colocar uma na boca, hum.... que delícia, que sabor doce e delicado.
Constatei que cada solo produz o fruto que lhe é peculiar.
Assim somos nós, cada qual produz conforme sua essência, não adianta tentar copiar o outro, a cópia nunca irá ficar como o original.
(foto da autora)