Hora de Conversar Com a Casa

Faxina pronta, escurece lá fora... ligo a fonte, acendo uma varetinha de incenso. É hora de conversar com a casa. Contatar meus amigos fantasmas, que caminham por aqui, seus passos entremeados a cada tique-taque do relógio.


Silêncio total, a lua cheia brilhando lá naquele céu de veludo cotelê azul-escuro, cheio de miçangas brilhantes. Barulhinhos da rua, das pessoas chegando em suas casas. Carros passando. Cachorrinhos latindo alegremente.

Uma casa tem personalidade, é preciso compreendê-la para não violá-la; é preciso estudar seus cantos a fim de não perturbar seus encantos, e tecer uma delicada trama que ligue a personalidade da casa à personalidade de quem mora nela. Se a casa não gosta de azul, pintar uma parede de azul pode ser um verdadeiro desastre! É necessário descobrir as cores da casa. Para isso, é preciso percorrer os cômodos e sentir-lhes as energias.

A escolha dos móveis também é importante; não devem ser grandes demais ou pequenos demais para o espaço que os comporta. Não podem atravancar as passagens e as portas. 

Um de meus fantasmas olha por cima de meu ombro, enquanto eu escrevo. Não podemos ter medo dos fantasmas que habitam uma casa, especialmente se eles chegaram bem antes de nós. É mister que façamos amizade com eles. Eles são excelentes ouvintes. Compreendem todas as mazelas humanas, pois já estiveram do lado de cá.

Uma casa é muito importante, pois comporta vidas. Não se tratam de apenas paredes. São cofres, guardam tesouros. passamos dentro delas grande parte de nossas vidas, vivendo e fazendo planos. Elas guardam nossos sonhos noturnos e diurnos.

Elas sabem de nós, as casas... um dia, seremos nós os fantasmas.

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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 29/07/2012
Reeditado em 24/10/2014
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