Descobertas
Mesmo que não queira, tudo passa!
Cada dia é novo. É assim, eu recomeço todos os dias. Alguns movimentos são repetitivos. Abrir os olhos e ver aquela frestinha de sol tão deliciosa, me dizendo que tem vida lá fora; rezar com fé, um dos melhores e mais belos hábitos do ser humano.
Ninguém pode se referir a mim como maluca, por ser mãe humana de um animalzinho que me acompanha com os olhos de quem sabe somente dar amor. Enquanto ela se aninha no meu colo, vou falando e sei que algumas palavras ela entende muito bem, tanto que as orelhinhas se levantam, a cada som mais atraente.
- Bom dia, Nina! Dormiu bem? A Nina é bonitinha, boazinha e minha amiguinha. Tá com fome? Vai buscar o jornal pra “mamãe”? (e eu sou boba de dizer outro nome?)
Já pensou se, no lugar de “mamãe” eu dissesse:
- Lady Nina, bom dia. Como vai você? Sei que está faminta. Pode fazer a gentileza de pegar o jornal para sua ama?
Quando olho para trás – e voltar ao passado me faz enxergar o futuro com menos erros – lembro das palavras de uma das dentistas. O dom dela é a fala. (Sabia que cada um de nós tem um dom? Procure o seu...) - Enquanto ela ia encaixando as pecinhas, conversou comigo. Eu, de boca aberta, só no “hum, hum”.
- Por que chora, menina? Você já imaginou o tamanho dos ganhos em sua vida? Você é perfeita, tem saúde razoável, tem braços para abraçar, trabalhar e tem pernas, é livre igual um passarinho na mata, pode consertar todos os caquinhos; é só saber como e não é bobinha!
Numa fala leve, enquanto as lágrimas escorriam pelo lado, fui me lembrando de algumas experiências e fazendo descobertas. Não posso trazer meu passado para hoje, mas posso guardar todas as boas lembranças. Preciso aprender a me despedir, acenar, sorrir e até chorar de verdade. Quanto de mim foi desperdiçado com noites mal dormidas, vontade de estar perto, reviver momentos muito bons que tivemos? Talvez estas divagações estejam me arremessando para uma situação bem diferente da que eu ainda enxergo, hoje em proporções bem menores que ontem.
Eu pensava naquele único amor que eu tive durante vinte e cinco horas por dia. Quando ele me colocou no último lugar da fila e depois, com muita inteligência, fora dela, eu pensei que fosse morrer. A cada dia que passava o seu “bom dia” não vinha. Cada lugar que ia, meus olhos procuravam aquele rosto amado. Uma vez consegui visualizar seu rosto nas nuvens!
Enquanto ela falava, eu relembrava o sorriso aberto, das gravatas coloridas, das brincadeiras, dos silêncios, dos olhos fechados, da musica bonita que me mostrava, da disposição em revisar meus textos, da criança que era e do adulto amargo que se tornou.
Hoje de manhã havia uma mensagem de “Bom Dia” no meu telefone. Levei um tempão para lembrar-me de quem era. Quem era mesmo?
Bom domingo!
Foto de Maria Cecília Sancio, fotografando estradas para a vida!
Ilustração Google