O endiabrado
O menino foi batizado de Carlos, mas desde muito pequeno acostumou-se a ser chamado por nomes feios. Quando ainda era bebê, se sujava as fraldas a mãe gritava_ Coisa ruim, só vive para me dar trabalho. Se chorava durante a noite o pai acordava a mulher enraivecido_ Va calar a boca daquele monstrinho nojento. Ninguém te mandou colocar aquilo no mundo! O certo é que Carlos nunca foi querido, muito menos amado. Começou a andar no dia em que completou um ano. Já que não lhe davam colo, teve que descobrir o mundo por ele mesmo. Só descobriu que seu nome era Carlos, aos cinco anos, quando a avó veio passar uns dias em sua casa. A senhora escutou baterem no portão, e como estava atarefadíssima assistindo televisão, gritou pelo neto para ir ver quem era. O garoto que brincava de médico no quintal, e no momento tentava ressuscitar um passarinho do qual havia torcido o pescoço, escutou o chamado, mas não sabendo se era com ele não deu importância. A mulher que era tão ou mais nervosa que a filha, veio de dentro da casa, brava que nem uma hiena e encheu o garoto de tapas. Nesse dia o menino aprendeu duas coisas: Que se chamava Carlos e que seria também saco de pancada da avó. Engana-se quem pensa que o garoto era um santo. Ele estava sempre sorrindo, quem chorava era as outras crianças. Ora por causa de um pontapé que Carlos aplicava sem piedade, ora por um empurrão que lançava ao chão, os desavisados que se atreviam dele se aproximar. Palavrão o garoto sabia de cor e salteado e bastava alguém passar pela calçada da sua casa, para receber em plena fuça bolotas de barro, e se o atingido parasse para reclamar era pior, além dos responsáveis não tomarem nenhuma atitude, ainda tinha que ouvir da boca de Carlos xingamentos terríveis. Nunca foi permitido ao menino ter animais de estimação, tanto o pai quanto a mãe detestavam qualquer tipo de bicho. Talvez seja por isso que o garoto devotava imensa raiva aos cachorros e gatos dos vizinhos e estivesse sempre os acertando com bodocadas e pauladas. Tanto os pais, quanto o filho eram odiados por todo o bairro, e a população ficou muito satisfeita quando eles se mudaram. Estavam livres do casal estranho e do garoto endiabrado. Vânia Lopes 28/07/2012