Reconheço...
Dizem que eu sou um sujeito insuportável, mas não posso me eximir de culpa em relação a isso, visto que nem eu me suporto na maioria do tempo em que convivo comigo mesmo!
Então eu vou fazendo os meus trabalhos com a mente dividida. Parte tenta se concentrar nas tarefas, enquanto a outra parte fica observando tudo ao meu redor.
Ontem percebi uma menininha me olhando, inquieta...
Deveria ter no máximo oito anos, mas me olhava com uma expressão séria e parecia me analisar enquanto eu explicava a seus pais que o cigarro, embora, de acordo com especialistas, possua muitas substâncias cancerígenas, não é capaz de provocar qualquer espécie de câncer sem a ajuda de um “gatilho” ou mesmo um fator secundário, especialmente de ordem emocional ou alimentar, pois o organismo humano, mesmo tendo sido tão degradado no decorrer dos milênios, tem uma capacidade soberana de não permitir que essas substâncias contidas no cigarro, sozinhas, provoquem danos tão graves ou maiores que enfisemas pulmonares, que diferentes dos carcinomas, podem, sim, acabar com a história de muitos fumantes e são, de fato, inimigos reais e perigosíssimos a serem temidos.
- Então por que nos maços de cigarro está escrito que eles podem provocar câncer? Perguntou a mãe da menininha em tom de desafio.
Pensei comigo que se ela tinha essa certeza por que ainda fumava tanto? Mas respondi-lhe sob o olhar perscrutativo da menininha:
- O problema é que além de fumar as pessoas enchem o organismo de acidez, seja através de coisas que ingerem e que têm um PH muito alto, seja através da perda de tempo em frente a telas de TV, de onde recebem grande quantidade de sons e imagens que chegam aos lóbulos frontais como um tiro de adrenalina, ou, ainda pela ansiedade, estresse ou outros fatores emocionais como mágoa, ira, impaciência e etc. que impedem que elas produzam, em maior quantidade, bons e indispensáveis hormônios para o sistema imunológico tais como a Endorfina e a Serotonina. Essas coisas deixam o organismo frágil e as substâncias contidas no cigarro encontram terreno fértil para causar danos. Por isso, de vez em quando, encontro pessoas com mais de noventa anos que fumam há várias décadas e não têm mais que sintomas de enfisemas ou outros danos em seus pulmões cansados. São pessoas felizes, apesar do mau hábito!
Após alguns minutos a mais de conversa me despedi, não sem antes fazer uma prece com a família e deixar dois vidrinhos de um enxaguante bucal natural, cuja ação ajuda a inibir o ato de fumar.
A menininha saiu da casa antes de mim e quando eu cruzava a varanda fez sinal para que eu parasse e me perguntou:
- Se eu fumar vou ficar assim como os meus pais?
Sem entender o que seria o “assim” eu, mecanicamente, anuí afirmativamente com a cabeça.
Ela perguntou, outra vez:
- O senhor não fuma, não é?
Respondi:
- Oh! Não. Eu nunca fumei.
Ela acenou um “tchau”, voltou-se e dirigiu-se em direção à porta de entrada, esfregou rapidamente as mãos, encolhendo-se, comentou que estava muito frio e, enquanto entrava disse:
- Por isso o senhor é assim esquisito e não ri... Eu não vou fumar porque o cheiro é muito ruim, mas não quero que meus pais sejam assim como o senhor.
Entrei pensativo no carro e não pude deixar de concordar que ando mesmo de semblante mais fechado que o normal...
Pensei nos idosos fumantes e felizes...
Ando mesmo infeliz.
Ronaldo Rhusso