O Círculo
O Círculo
Belvedere Bruno
Sentia que não havia consideração nem sinceridade. Gestos e palavras pareciam forçados, ensaiados, como cenas de uma peça teatral . Por mais que tentasse sentir-me integrada, tudo pairava no ar em tom de camuflagem.
Durante algum tempo, vivi nesse faz de conta. Um dia, em desespero, perguntei: "Que laços me prendem a eles, se me rejeitam?" Rapidamente, tive a resposta: “Nenhum, além do laço-fantasia que você mesma criou.”Lembrei que minha fase de historinhas infantis acabara há décadas, embora, movida pela nostalgia, ainda me lembrasse de inúmeros personagens. Inconscientemente, vivia à base de ilusões, confesso. Insistia em pertencer ao Círculo, até por honra ao seu criador.
Agora, via nitidamente a falta de receptividade dos membros em relação a mim. Sucessivos acontecimentos me levaram a uma decisão que mudaria o rumo de minha vida. Fechei, então, o ciclo, pois os ritos eram por demais obscuros para meu entendimento.
Refletindo sem as emoções avassaladoras que por algum tempo me envolveram, senti que a magia se desfizera há tempos, e que nutrira um culto à ilusão. Nada restara do Círculo após a partida do seu criador.
Hoje, consciente, rememoro tudo que vivenciei. Pacifiquei-me colocando um ponto final no que nada tinha de fantástico, mas nem por isso deixava de ser doloroso se analisado em toda sua carga emocional. Era preciso encarar os fatos. Sem medos. Consegui. Foi como se, de repente, surgisse o final perfeito para um filme dramático entremeado de assombros, mentiras e ingratidões.