FIM DE DIA

Acho que eu a Djanira nos conhecemos c/ este texto apreciado por ela. E por esta razão estou querendo lembrar dela, e Karen, e o que ela gostou em mim, pois afinal nos tornamos tão amigas, mais parecemos mãe e filha.

Algo ta rolando dentro pedindo expressão. Os pensamentos vão mudando de tempo e de lugar, e também de considerações específicas, querendo dizer. Isto é bem raro e muito bom. Mas é tanta sobreposição de assunto e temas de interesse... Comecei a escrever para dar soltura, espaço e liberdade para esta essência querer se exprimir...

Agora no fim é que começo...
Sou escultora. Fazia belos trabalhos, sempre apreciei tudo que fazia, em madeira, em pedra sabão, em argila, em gesso e em cimento, tenho muita história aí.
Numa ocasião distante, indo a Ouro Preto, fiquei sabendo de um escultor muito conhecido  lá, cujo nome não mais sei, mas sei da pessoa e do peso artístico dos seus trabalhos, eram belíssimos e variados temas. Voltei lá e lhe dei duas ferramentas especialíssimas trazidas da França e que facilitava muito trabalhar na superfície da pedra; eu as adorava, não daria pra ninguém. Mas dei pra ele achando merecido, e lhe perguntei como ele conseguia fazer tanta coisa, era um atelier lotado de obras.


E ele me disse uma coisa dura que me volta aqui neste momento em que tanta água já rolou. E só agora o perdoo, pois só agora o percebo e mais, ele não merecia as minhas espátulas de metal chanfrado que tanta beleza dava ao acabamento e mais expressão na superfície da pedra sabão. Ferramentas que ajudavam a arte sair expressionista. Ele não precisava daquilo. Ele já tinha o seu limite. Eu não, eu estava em pleno desabrochar e evolução, tinha sensibilidade artística e sentimento cultural artístico também em crescimento transformador.
Ele respondeu como um deus, que “ele via os seus filhos”, ou seja, ele via além dos filhos, via-os com arte e a dose certa de amor. E disse isto como se um mestre fosse e como se incapaz eu fosse. Agora neste fim de tarde lembro-me deste homem que era muito hábil sim no seu exercício diário de fazer peças para vendê-las, vivendo disso, um trabalho de habilidade e bonito. Vendia como artesanato.

 
 Eu vivi todos esses anos passados com esse mito esquecido, mas não morto, e sabe-se-lá o quanto ele possa ter me atormentado e prejudicado o meu caminho na arte. Quer dizer, deixei Ouro Preto sabendo que aquele homem ia fazer coisas belíssimas e que eu não faria. Ele chegou a turvar a minha visão do meu entendimento acompanhada dos meus três filhos novos que assistiram aos acontecimentos... Estava hoje comentando com uma escritora de nome Karen aqui do Recanto das Letras, uma bela jovem que escreve pensamentos, pois ser bela não tem nada a ver com ser bela ou não ser. Todo ser humano pensa. Pois bem, e agora, lembrando desse homem, e juntando minhas palavras ditas a ela, que em suma eram apenas que se deve confiar em si própria e que, às vezes, a gente precisa ser ouvida e escutada, coisa que seria boa e nem sempre acontece, pois cada um anda no seu próprio cismar.Muitas vezes senti falta de uma mão estendida, mas o que vale mais “é confiar em si próprio e ir em frente”.

Lá em Ouro Preto, naquele ano tão longe, que nem sei mais qual, aquele homem não me soube ouvir, e nem me estendeu as mãos.

Para minha sorte, senão hoje, eu não passaria de uma cópia de seu limitado espaço e labor.
 
MLuiza Martins
Enviado por MLuiza Martins em 17/10/2008/Republicado hoje
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