A Mulher Eletrônica

Ela se levanta toda manhã com milhares de obrigações. Nada pode dar errado, nem mesmo é permitido atraso. Levantar, espreguiçar e cumprir todo um ritual de beleza. Antes de sair, não pode esquecer-se de checar, novamente, se o batom não borrou e se o perfume está no ponto certo.

Clap Clap Clap, mulheres distintas por todos os lados. Seus saltos anunciam certeza, convicção e poder, ou pelo menos disfarçam um pouco a insegurança. Ela é uma super-mulher. O filho que dormira na casa do pai liga e pergunta o que vai comer no café da manhã. Ela está atarefada, mas sempre arruma um tempo, entre o tempo, para resolver seus problemas, afinal ela também é mãe.

Essa guerreira chega para o almoço, conversa com o filho, e ainda consegue olhar seu caderno, suas notas e dizer palavras amáveis. Ela volta para o trabalho, às vezes com o coração na mão, e cumpre brilhantemente seu papel. Em muitos dos casos, melhor que o homem, e nem é reconhecida por isso.

À noite, esgotada, ela retorna para casa e tem de desempenhar outros papéis. O filho saíra com os amigos. Solteira, ela tem seus flertes, e por mais que saiba que a maioria dos homens não vai reparar no seu novo corte de cabelo, na nova roupa e na maquiagem minuciosamente feita para a ocasião, ela se atreve, ela quer ser sexy. A cada dia procura ficar mais linda, com a esperança de que um dia eles percebam.

São oito horas, a buzina anuncia: vai começar!

Ela sai correndo, uma última olhada no espelho, – Você pode fazer isso, você é capaz, sua gostosa! – diz para si mesma, e respira fundo.

Ele, em um gesto tão antigo quanto o mundo, a beija de leve e abre a porta do carro gentilmente.

— Que perfume maravilhoso, e se me permite sua roupa também! — disse olhando-a de forma profunda.

Ela não respondeu nada, estava assustada e encantada com ele. Apenas assentiu.

O jantar foi perfeito. Ele percebera cada detalhe, cada flash em seus olhos, cada sorriso, cada arrepio, e foi um verdadeiro cavalheiro.

— Você existe? – ela perguntou.

— Como é? Acho que não entendi.

— Não, é exatamente isso. Você existe? – disse num enorme sorriso. Abraçaram-se.

A noite terminou com um demorado beijo de despedida, e ele a deixando em casa. Um príncipe daqueles não levaria uma donzela para a cama no primeiro encontro, mesmo eles já se conhecendo dos altos chats da internet. Por mais atual e tecnológico, tem certas coisas que nunca saem de moda.

Diogo Andrade
Enviado por Diogo Andrade em 26/07/2012
Código do texto: T3798275
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