Algumas idéias sobre o sucesso musical

Um outro que passa pela minha loja pra jogar conversa fora, é um tipo esportista, já foi dançarino, se filiou a um partido político depois se decepcionou e hoje tem aversão a essa causa, frequentou assiduamente a igreja mas hoje não quer nem saber de santo. Possui uma voz meio aguda, e adora usá-la pra expor seu descontentamento. É outro desocupado, já tem mais de trinta anos mas é tão indolente para o trabalho quanto o poeta magro. A preocupação do dançador é com o sucesso de artistas famosos, e o descaso destes para com os outros que estão no anonimato. Mora com a mãe e se preocupa com a irresponsabilidade dos administradores da cidade, com os roubos e desordens, com o trabalho dos guardas e policiais. Ou seja, se comporta como a maioria que nada faz, fica por aí olhando pra vida dos outros e opinando pra encher o saco de quem prefere não ouvir ladainhas.

Mas quanto a isso de fazer sucesso com arte e especialmente com música, eu cá tenho umas idéias que sempre trago à tona, talvez por ter trabalhado bastante nesse ramo e com isso ter tomado consciência de que a gente não deve nem pode ter a vida de outra pessoa... mesmo essa pessoa sendo eu mesmo... explico melhor, é que cada pessoa é única e tem seu tempo, e que não dá pra assobiar e chupar cana, noutras palavras ou se faz isso ou aquilo. A fama acontece pra aquele que está no local e no momento certo e não pode deixar passar a oportunidade, pois noutro instante a coisa já pode não se encaixar. Assim, exemplificando: Nelson Gonçalves teve seu tempo, Roberto Carlos já veio noutra década e foi se adaptando às novas propostas de audição, e é desse jeito, uma coisa dinâmica. Já conversei com artistas famosos da música que tiveram muito êxito noutros tempos, hoje uns poucos continuam se apresentando. Contudo aquele brilho da época em que se tornaram famosos já não é o mesmo para os ouvintes das novas gerações, sim porque pra os antigos fãs daqueles artistas, a admiração continua, mesmo um pouco pálida mas continua.

Para falar das preferências das platéias, conto um caso: certa vez depois de uma apresentação do Fausto Nilo em Natal, ouvi dele frase que não mais esqueci. Disse-me que quem vai dizer se uma música pode fazer sucesso, é o gôsto do público. E eu observei que esse gôsto pode abranger vários campos. Logo, a canção pode dizer algo ridículo, bem-humorado, sex, pode ser um protesto, crítica e tudo o mais que desperte emoções no ser humano, pode até ser em língua estrangeira. O povo quer novidade, quer se divertir com ou sem arte. A massa adota bordões, cria gírias e escolhe o que lhe convém e isso é tão antigo quanto o próprio povo. Mas afinal o que é mesmo fazer sucesso! A resposta também vai variar de acordo com o gôsto da pessoa em questão, artista ou não. No caso de personalidades da música, seria vender milhões de cópias do disco? Ou seria estar na mídia aplaudido e famoso? O que é afinal? Num campo geral parece que é se dá bem, ou seja obter êxito e não haver fracasso ou mau sucesso. Mas também não seria simplesmente a pura satisfação? Sim, mas esta mesma varia de um pra outro... enquanto um gosta de calma o outro quer agitação, enquanto um deseja simplicidade outro quer dar asas à sua desenfreada vaidade...porém! um cronista bem antigo já não disse certa vez que tudo é vaidade debaixo do sol, então! O que será? Existem pessoas comuns que querem ser reconhecidas como bons profissionais, outras não estão nem aí para isso, querem é viver na marginalidade, esta também dá fama. Tem gente que quer possuir muito dinheiro, sem nem mesmo saber se isso lhe proporcionará a satisfação desejada. Mas eu prefiro não falar do poder e das artimanhas do dinheiro, gostaria de citar a fama por enquanto. Ora! existe pessoas que desejaram ser famosas e se tornam celebridades, estrelas, mas em seguida ao estrelato pode vir o anonimato e exatamente essa mudança pode causar grande desencanto e dor para elas. Assim, a frustração faz com que a pessoa acorde e bote os pés no chão e comece a se conhecer melhor. Talvez no tempo em que desejou se mostrar ao público a pessoa não fosse ela mesma e estivesse eocionada, tomada por exacerbada vaidade ou simplesmente fingindo... sei lá, penso que ninguém sabe ao certo

o que a glória pode fazer com a sua cabeça e com os seus sentimentos... a prova disso é a quantidade enorme de grandes artistas que acabaram com as suas vidas de formas tristes e dramáticas. É por isso que tenho pensado, se o ideal não é a pessoa se conhecer um melhor e daí partir para a ribalta sem muita sede ao pote, ou mesmo se aceitar como uma pessoa comum e com os pés na realidade do chão?