Posso dar Um Jeito...


Noite. Na cozinha, o chiado da panela de pressão e o olhar doce e confortante de minha cadela. No CD, Beatles. A taste of Honey. Eight Days a Week.
 
Cherinho do louro que uso para temperar o feijão. I Feel Fine...
 
Estou sozinha, e  de repente, enquanto escrevo, sinto como se alguém tivesse chegado e se debruçado sobre meu ombro para espiar o que escrevo. Acho que todo mundo já teve um dia essa sensação. E quando nos viramos, para ver quem é, não há ninguém. Antes, eu tinha medo; pavor! Mas agora, não tenho mais.
 
Escrevo em um velho caderno pautado, para não perder a prática.
 
Amanhã é dia de faxina, então Latifa, minha cadela, hoje tem passe livre para brincar de cachorrinha de madame dentro de casa. Mas amanhã, quando eu estiver passando o aspirador e ela sentir o cheirinho de desinfetante e cera, saberá que sua folga acabou.
 
Help! I need Somebody...
 
Fechei a porta da sala, pois os morcegos costumam entrar quando escurece.
 
Viro a página para escrever do outro lado, e sempre desenho, ates de virar, uma setinha no pé da página preenchida. Para quê, se o único caminho, a única alternativa após alguém ler ou escrever sobre  uma página inteira, é virá-la?
 
Talvez para lembrar-me de que é assim também com a vida. Páginas cheias devem ser viradas. Bem , isto foi uma metáfora.
 
Desligo o fogo da carne e do arroz, mas a batata doce ainda está dura, e a panela de pressão continuará chiando por mais algum tempo. Isto não foi uma metáfora; na verdade, não significa nada.
 
Gotta a good reason for taking the easy way out... she was a day tripper, one-way ticket, yeah!
 
It took me so long to find out, but I've found out.
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 26/07/2012
Reeditado em 03/04/2013
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