Os Nazistas Voltaram


Fiquei sabendo que os organizadores de um desfile de modas, na Espanha, proibiu que cinco modelos desfilassem por serem magras demais. Elas estavam abaixo do IMC (índice de massa corporal), por eles adotados, segundo recomendação médica. Este é um precedente histórico, se a iniciativa propagar-se.

Estou cansado dos exagerados padrões de beleza que a mídia nos impõe. Você tem que ser alto, magro, musculoso, com olhos azuis e cabelos loiros. Será que os nazistas voltaram e ninguém percebeu? Ficaram mais sutis, abandonaram a suástica e os antigos métodos, como aquele de mandar tomar um banho de gás. Hoje a tortura é psicológica. Sabemos que os belos rostos e corpos que aparecem nos vídeos e fotos são irreais. Olhe para o seu lado, nas ruas, cinemas e restaurantes e poderá atestar a veracidade do que vos afirmo.

Recentemente, quando em viagem pelo nublado litoral paulista - São Pedro não deu folga; ensinei minhas filhas a reparar nas pessoas que estavam nos bares, bebendo uma inocente cerveja.

- Que tal essas pessoas? Perguntava-lhes. São aquelas dos comerciais? Elas olhavam, sorriam e respondiam:
- Nem de longe.

Onde os rapazes sarados, as moças em corpos esculturais, a virtude em forma de perfeitas silhuetas? Precisamos ter um senso crítico muito aguçado, no mundo transviado que nos é vendido, para não ficarmos loucos. Espero que um dia o bom senso atinja o mundo da publicidade. Sei que será difícil, afinal, ninguém vai comprar uma motocicleta de um apresentador considerado feio, fora dos padrões de beleza imantados como superiores.

Uma das mais perfeitas e criativas formas de romper com tais padrões eu verifiquei eu uma inocente película. O protagonista, que antes só enxergava a beleza exterior, foi hipnotizado por um tipo de “guru” moderno, com terno e gravata. A partir deste encontro, ele sofreu uma verdadeira metamorfose. Passou a ver o “interior” das pessoas, a verdadeira beleza que nos distingue um dos outros. Nada mais de perseguir as perfeitas formas dos vasos esbeltos de carne. Ele buscou a alma, a essência, e surpreendeu ao mundo ao se apaixonar por uma pessoa maravilhosa, que não atendia às nossas medidas oficiais.

Gostaria que o mundo de repente mudasse e que novos padrões fossem sugeridos. Que tal enxergarmos a honestidade como virtude e a dedicação ao trabalho como essencial? E o amor à família, o acompanhamento aos filhos, a solidariedade, a ética, tão esquecida, dentre outros, como princípios indispensáveis à vida? Vamos trocar o ter pelo ser? Sei que essa crônica será abandonada, esquecida, no fundo das nossas consciências adormecidas.

Eu, você e o mundo estamos longe de um padrão ideal de perfeição absoluta. Precisamos mudar os olhos com o qual vemos o mundo, ou então, cairemos em uma terrível armadilha, que aprisiona a cada um nas trincheiras da superficialidade.