BORRACHA, ARACI...E OUTROS!
BORRACHA, ARACI...E OUTROS!
Que eu sou vidrado em futebol, todo mundo sabe. Ultimamente não, porém, quando mais moço, era de ir ao estádio. Desde menino, em fins dos anos 50, ia ao Américo Guazzelli assistir jogos do Corinthians de Santo André, que disputava a 2ª Divisão da FPF. Jogos com o Hepacaré de Lorena, Estrela de Piquete, Primavera de Indaiatuba, e outros.
Mais tarde, veio o Santo André F.C., e, em 1967, apareceu o E.C. Santo André, seu sucessor. Fiquei sócio, sendo, hoje, conselheiro vitalício e membro do COF - Conselho de Orientação Financeira.
O Bruno Daniel passou a ser minha praia. Ir ao estádio ficou sendo um programa além do interesse esportivo, muito divertido.
Começava pela entrada em campo, antes do jogo, de um cidadão negro, magro, de mais de 60 anos, vestindo terno azul ou branco, gravata borboleta e chapéu, portando a bandeira do Ramalhão. Era o Borracha, torcedor símbolo. Apesar da idade, dava uma volta olímpica no campo, correndo, levantando o público que o saudava, efusivamente.
Antes de falecer, teve um desentendimento com a diretoria, e foi, creio, com muita dor no coração, e por pirraça, fazer o mesmo no São Caetano, nosso rival.
O Santo André tinha, também, entre os torcedores, os “corneteiros”, grupo que se reunia, nos jogos, sempre num determinado lugar do estádio. Exercia certa influência na diretoria. O Hilário, o Jorge Lincoln, o Samuca, o Breno, o Paulo Roberto Dias, o Wigand, o Paulo Roberto Oliva, o Xaxeco, entre os mais famosos.
Durante o jogo, quando um jogador se machucava, lá ia o Dr.Irineu correndo, e um cidadão gordinho, baixa estatura, cabeludo, atrás carregando a maca. Alguém, na torcida, gritava:
- Araci! O maqueiro parava, olhava para trás, mostrando o punho fechado, em direção à torcida. Aí o estádio inteiro vibrava, chamando-o ...Araci! Realmente, o moço tinha a cara da famosa cantora, a mesma figura da televisão.
O Paulo Roberto Oliva, saudoso, sempre foi uma figura muito engraçada. Desde a mocidade, em dupla com outro amigo, também falecido, o Marcelo Cardoso Franco, eram de fazer coisas do arco da velha.
No campo, ele se sobressaía com sua poderosa voz. Quando o goleiro Tonho, o mais famoso dos que passaram pelo time, fazia uma grande defesa, escutava-se dele:
- Goleiro temos...!!! A risada era geral. Se o time não engrenava, o adversário sufocando, vinha ele com as palavras de ordem:
- P’ra frente!!!
O Zé Repique, igualmente, foi uma figura folclórica. Aliás, a cidade inteira o conhecia, pelo seu tamanho, e o indefectível charuto no canto da boca. Vivia, dormia, dentro de sua caminhonete. E ali morreu. Foi motorista de praça. No campo, sentava sempre no mesmo lugar, e sempre dormia na maior parte do jogo.
Por falar em dormir, o Xaxeco, apelido do advogado Francisco Xavier Machado, grande simpatizante do Panelinha, proporcionou um dos casos mais gozados. Durante um jogo noturno, ele meio tomado por uns copos a mais, e devido à monotonia do mesmo, não resistiu e dormiu. Terminada a partida, os amigos (...e que amigos!) não o acordaram. Só foi sair do estádio, no dia seguinte!
Atualmente, vencido pela comodidade, não tenho ido ao estádio. A televisão supre a necessidade. Os anos, também, contribuem. Mas, foi uma época romântica, saudosa, que sempre me traz indeléveis recordações.