Olhos, faróis da alma

Hoje sonhei que estava em alto mar, segurando uma bóia. À noite ouvia o mar revolto e o vento trazendo gritos de afogados. De repente uma voz pediu que eu olhasse para o lado oposto. Fiz isso e vi alguns náufragos, em uma ilha, clamavam que eu fosse até lá. Chegando à ilha os que lá estavam seguraram-se na bóia e lançaram-se no mar. Eu fiquei sozinho e percebi que meus olhos iluminavam a escuridão para que eles pudessem seguir o rumo certo.

Lugar comum, a expressão “Faróis da alma”, logo nos remete aos olhos, pela analogia com “aquilo” que ilumina, que na escuridão faz enxergar. Os poetas freqüentemente usam a frase: “vejo o mundo com os olhos da alma”. Por eles a gente observa e vê o mundo, e também, é a janela por onde os outros podem espiar o que temos por dentro. Quantas vezes voce percebeu a tristeza de alguém pela expressão do olhar? Quantas vezes voce se sentiu sozinho ao lado de alguém com olhar distante?

“Se longe é não ver, a lua está mais perto que a próxima cidade”. Sentimos isso quando não podemos ver alguém com quem queríamos estar. O filho que, viajando, sente saudades de seus pais; os pais que, divorciados, sentem falta de seus filhos.

Leonardo da Vinci escreveu: ”As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar”. Os olhos são faróis silenciosos que descrevem o movimento de um corpo, a dança de uma sombra, a silhueta de quem observa um banho pelo espelho.

A forma de olhar pode dizer mais do que “A Retórica” de Aristóteles; pode ter mais conteúdo do que “Guerra e Paz” de Leon Tolstói. A alteração de um olhar pode trazer mais conseqüências do que um comício do Nationalsozialismus alemão.

Cuide bem de seus olhos! Evite o mesquinho “olhar da inveja”, o submisso “olhar pro chão”. Olhe nos olhos quando estiver falando ou ouvindo. Sinta-se bem quando for “olhado” na rua.

Um colírio de Vinícius de Moraes no Poema dos Olhos da Amada: “Ah, minha amada de olhos ateus/ cria a esperança nos olhos meus/ de ver um dia o olhar mendigo/ da poesia nos olhos teus.”

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 24/07/2012
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