TPM masculina
Um certo dia acordei com o soar do despertador que não parava de tocar às sete horas da manhã. Não consegui vencê-lo e então me levantei. Como sempre me espreguicei, me dirigi para o banheiro num passo de quem aparentemente vinha de uma viagem longa e cansativa, retirei o pijama, tomei banho e por fim me dirigi para a pia pra poder escovar os dentes. E foi ao olhar pro espelho que me deparei com uma figura que eu mesmo entendi como se fosse um trapo de gente. Sim, naquele momento eu me deparava com o que restava de mim daquela péssima noite que passei.
Ao me ver no espelho naquele estado falei ironicamente pra mim mesmo: “Eh caro amigo, hoje será um daqueles dias!”. Já poderia até ver o que iria acontecer futuramente. Pois tive um daqueles pressentimentos de que aquele dia seria um dos piores de minha vida. Se eu fosse uma mulher com certeza seria um dia de TPM. Mas segui em frente e fui pra cozinha preparar meu café da manhã.
Ao fim da preparação pude então prová-lo. Não sei se pelas circunstâncias de meu estado de humor, mas o café estava uma porcaria. Estava tão amargo quanto as minhas próprias conclusões do meu dia que viria pela frente.
Tentando modificar o gosto de amargo do café fui para o armário em busca de açúcar. Ao dirigir meu braço para o pote tomo um susto pelo fato de uma barata enorme pular em minha mão. Como algo instantâneo jogue-ia no chão e pisei nela sem dó nem piedade.
Poderia ter acabado de matá-la, mas algo não me fez agir como um assassino frio. No entanto fiquei observando-a por um instante. Acho que estava me recuperando do susto. Mas algo de forças maiores me fez poder observar o esforço que aquele inseto fazia pra viver. Foi incrível ver que, mesmo sendo um ser feio, nojento e asqueroso, fosse, ao mesmo tempo, tão valente. Fiquei surpreendido em saber um ser tão horripilante poderia lutar daquele jeito pela vida. Se é que viver na escuridão, em meio de fugas e perseguições pode ser entendido como uma vida.
A forma como aquele inseto se retorcia lutando pra poder escapar da morte me fez olhar pra dentro de mim mesmo. E me fez surgir uma pergunta: “Se um inseto asqueroso pode lutar tanto pra viver mais um dia, por que eu, um ser racional, livre e não tão feio quanto ele não posso me esforçar pra modificar meu dia?”.
Confesso que naquele momento me bateu uma crise de inveja da barata. Foi o que fez mudar meu jeito de enxergar a vida. Foi daí em diante que pude inverter meu humor. Sendo capaz de fazer com que meus futuros “dias de TPM” não se completassem.