UM COLEGA POR DEMAIS ESPECIAL (pedido de namoro)
Isso aconteceu também em Santos, já contei da outra história, do TERRAÇO…
Naquele tempo eu estudava na Avenida Conselheiro Nébias, em um cursinho pré vestibular…
Uma classe com mais de 60 alunos e professores “shows”.
Eu, encabulada, entrava à classe, sentava-me nas primeiras cadeiras e ali assistia a tudo. Desde às aulas até os sorrisos e brincadeiras dos demais colegas do “fundão”, geralmente os mais audaciosos e menos estudiosos, como achava. Claro que isso nem sempre é verdadeiro. Muitos daqueles do “fundão” eram bem inteligentes e por isso nem precisavam tanto ficar à frente para melhor entender as aulas.
Bem, nunca notara o tal rapaz do qual irei comentar agora.
Eu já estava na avenida da praia. Era tarde da noite, quase meia noite. Levava meus cadernos universitários nas mãos, junto ao peito, com os braços cruzados os segurando.
Era assim que quase todas nós estudantes andávamos…
Um desses cadernos tinha a foto de um rapaz loiro, de jeans e tenis vermelho de cano alto. Eu sempre olhava para aquela capa do caderno, que escolhi justamente por isso, Por ter aquele rapaz na capa.
Estava aguardando a chegada do ônibus que eu teria que usar para descer na altura do canal 1 (todos devem conhecer o canal 1 em Santos. Lá tem diversos canais em direção à praia, o que separa certas ruas e dá denominação aos quarteirões)
Vi, atravessar as duas mãos da avenida da praia um rapaz alto, loiro, com jeans e um tenis vermelho de cano alto…Nossa! pensei… “igual à capa de meu caderno??!!!”… e fiquei olhando aquele homem continuando seu trajeto em direção ao jardim da orla da praia, indo em direção
contrária ao que eu seguiria. Meus olhos o seguiram até não o ver mais. Era impressionante isso.
De repente pareceu-me que o rapaz da capa de um de meus cadernos teve vida e saiu andando por ali. Conferi esse caderno e mais admirava-me ainda.
Aquela imagem ficou em minha memória…
Na mesma semana, como sempre, eu sentava-me nas primeiras filheiras. Nessa classe eu gostava da tres primeiras perto da porta. Ficava mais fácil sair e descer as escadas antes que todos os demais colegas o fizessem. Isso facilitava também eu seguir um trecho a pé até a avenida da orla da praia e pegar um ônibus mais rapidamente e menos cheio.
Quando adentrei, logo vi que meu assento preferido havia sido tomado. Eram dois rapazes. Um moreno de cabelo encaracolado e um loiro- ele! Aquele loiro que eu vira no outro dia.
Mesmo sendo o tal loiro, eu fiquei indignada e logo exclamei: ”vocês se sentaram em meu lugar!!!…”, como se houvesse de fato um lugar demarcado ali!
E logo esse de cabelo encaracolado me disse: “Não, nós guardamos o lugar para você!” e retirou um caderno que estava no assento da cadeira e eu sentei-me ali.
Esse mesmo rapaz puxou assunto comigo e eu respondia em monólogos. Sempre fui encabulada para amizades recém conhecidas assim…
Num dado momento percebi que aquele rapaz loiro dizia algo ao rapaz de cabelos encaracolados e este transferia a mim o que o outro lhe dissera. Eram perguntas simples. Coisas de quem quer conhecer um pouco o colega de classe. Eu as respondia prontamente.
Isso continuou e eu então disse: “por que ele diz a você em vez dele mesmo me perguntar?” – Nossa, como eu conseguira dizer isso?!!
Bem, logo veio a resposta, “ele disse que é tímido!”
Ficou nisso. Logo o professor entrou e iniciou-se a aula.
No intervalo desci. Eles desceram primeiro mas ficaram na escada. Eu tive que passar por eles para descer e lanchar.
No fim das aulas, descemos juntos, sem nada dizer. Eles me acompanharam pelo trecho a pé até a orla da praia. sempre esse de cabelos encaracolados proseando comigo e o loiro alto, forte e bonito só ouvindo, sorrindo, lindo!.
Aconteceu isso mais umas vezes, bem poucas pelo que me recordo.
Numa noite aquele rapaz loiro me acompanhou só, sem o outro. Não sei se foi combinado isso. Nem me passou pela cabeça isso, na época.
Fomos conversando pelo caminho e ele me contara de seus pais, de sua profissão: “agente federal”, embora com seus 21 anos, que parecia bem mais velho, devido ao seu corpo forte e ele ser alto. Mostrou-me o documento de agente federal, o qual nem dei importância… bem poderia
ser comprado em qualquer feira, pensei.
Perguntou-me sobre a minha vida, se eu tinha namorado, idade, etc. E eu respondi francamente a todas.
Ao nos despedir ele disse que gostaria de namorar comigo… se eu aceitaria, mesmo eu sendo mais velha que ele. Eu tinha meus 23 anos e meio nessa época.
Fiquei surpresa. Achei maravilhoso tê-lo conhecido.
O destino sempre causa surpresas assim a mim!
Mas o meu medo sempre foi maior que tudo na minha vida emocional. Eu não me achava a altura dele. Ele tinha roupas mais caras, vivia rodeado de belas moças, que pareciam-me ser modelos. Elas sempre bem vestidas, cabelos lindos, sapatos maravilhosos e eu, pobre. Roupas feitas por mamãe, sapatos de lona na maioria das vezes, interiorana, sem nenhum conhecimento da vida fora a vida doméstica com qual eu convivera nesses longos anos de minha vida.
Eram aqueles anos os primeiros que eu sozinha olhava um outro mundo…
Diante de minha hesitaçao, ele, nobremente e responsável, disse-me: “Não se preocupe com minha idade, meus pais não se importam que eu namore com meninas mais velhas. Eu gosto de ti. E após os feriados você me diz se aceita esse pedido.”…
Seria feriado de páscoa.
Pensei muito. Incertezas e medos vinham em minha mente. Emoções de ser cortejada misturada com receio de ser uma brincadeira de um jovem de Santos, uma pilhéria que estaria a fazer com uma interiorana inibida e pouco conhecedora da vida ativa de noitadas em Santos…
Diante desse redemoinho de emoções pedi apoio a minha irmã e ela disse que eu seguisse em frente. Que aceitasse o namoro com o tal loiro lindo e alto e forte e corajoso.
Bem, passou o feriado e começaram as aulas. Mudamos de classe. agora estávamos no andar térreo. Uma classe isolada, do outro lado da rua.
Eu o vi à porta da classe, passei por ele só lhe dirigindo um sorriso e uma boa noite. Sentei-me a frente com uma colega que eu já conhecia.
Isso aconteceu direto nos dias subsequentes…
Um dia eu o encontro sentado à porta, cabisbaixo. Eu passei por ele, inibida, sem nada dizer…
E ele fez isso muitas vezes… como a esperar por mim, por minha resolução… e eu nunca lhe dirigi mais a palavra… até comecei a faltar, chegar mais tarde, sair mais cedo, para desencontrar-me dele…
Isso fez com que os meses passassem rapidamente e cada um seguiu seu caminho.
Hoje percebo o quão mal eu fiz a ele e a mim… e confesso: isso dói ainda…
(milena medeiros-24/07/2012-01:35h)
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http://milenamdiego.wordpress.com/2012/07/24/um-colega-por-demais-especial/