CRUELA

Tinha acabado de chegar do trabalho, o dia tinha sido cansativo. Aguentei por horas o meu chefe na minha orelha falando que hoje o meu trabalho não havia rendido muita coisa, sendo que preciso fazer o meu serviço e como se não bastasse quebrar o galho de muita gente preguiçosa, mas tudo bem preciso do meu salário fim do mês e vou engolindo alguns sapos dia-a-dia.

Tive experiências de trabalho bem piores, uma vez me senti no filme 101 dálmatas, não é brincadeira não, a mulher me lembrava muito a Cruela, não que ela tivesse a mania de querer a pele dos pobres cãezinhos pra poder fazer casacos como no filme, mas volta e meia ela queria era a pele de um funcionário, não sei e não entendo o que se passa naquela cabeça dura e sem compaixão alguma. Ninguém podia mandar no setor em que trabalhava. Ninguém podia nada. A não ser ela mesma, na verdade ela era a supervisora e o dinheiro do pagamento não saía do bolso dela, mas mesmo assim ela tinha gosto e tem ainda de esfregar na cara dos outros algum descuido, algum escorregão, alguma falta de atenção, trabalhava como se estivesse sendo vigiado, filmado, monitorado, a falta de espaço e liberdade fazia com que todos trabalhassem com medo, sem expectativas, fazendo nada mais do que o necessário, acordar todos os dias para ir ao trabalho era como ter que ir para uma luta diária, enfrentar bruxas e matar dragões além de se proteger do ninho de cobras. Era realmente complicado.

Teve uma época que não sabia mais o que fazer me passou pela cabeça ir à benzedeira, no pastor no padre, procurar algum tipo de ajuda, fazer yoga, meditação, ou agendar mais idas ao terapeuta, enfrentei uma barra, estava no fundo do poço e a água já estava nos meus joelhos, foi ai que me dei conta de que nada fazia sentido, que não precisa continuar ali, não precisava me submeter àquela situação diária e pedi demição, porque acho que ninguém precisa trabalhar sobre pressão, tortura psicológica, no fim das contas meu dinheiro de fim de mês estava sendo usado pra poder pagar remédios, psicólogo, tarja preta e calmantes.

Tive coragem e acho que mais pessoas também deveriam ter, acho ridículo ser escravizado em pleno século XXI viver de migalhas e como se não fosse o suficiente comer o pão que o diabo amassou. Ah, não podia deixar de comentar que o ser humano definitivamente é falso, não generalizo e acredito em pessoas boas, mais muitos não são, a falsidade não está estampada na cara de ninguém, porém meia horinha do lado de alguém assim você percebe, meu antigo trabalho era assim, falavam mal da chefona, viviam de butuca pra ver se ela não estava por perto, e quando ouviam o barulho do salto era ela que vinha, cantarolava como se tivesse visto o passarinho verde, não que não o tenha visto, mas no mínimo ela o matou com um estilingue, fogo ou veneno do jeito que é não duvido de nada. Falavam mal da chefona (...) e quando ela estava sentada em volta da mesa no chá das 3 do trabalho, todo mundo a tratava bem, como se todos fossem amigos e não vivessem um sem o outro, é o cúmulo, o cúmulo da falta de vergonha na cara!

Rezo todos os dias á Deus que não permita tanta hipocrisia ao meu redor, tenho me afastado do que me faz mal, tenho montado uma barreira invisível contra tudo e todos que tenham uma energia ruim, tenho tentado, e não vou deixar de continuar tentando.

Vanderlei Woytowicz
Enviado por Vanderlei Woytowicz em 23/07/2012
Código do texto: T3793451
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