A MINHA CRÔNICA DO DIA - LIMITES -
A MINHA CRÔNICA DO DIA - LIMITES -
Em geral os simples mortais, quando às horas dos ponteiros do relógio orgânico, assinala que é chegada à hora de comer, todos se dirigem para suas casas ou para algum local onde haja comida, pela qual se paga. Assim também podemos deduzir que de outra forma, quando estes mesmos ponteiros indicam a hora de comer, muitas pessoas não têm a menor condição de fazer tal. Problemas de ordem social a parte.
Sentado à mesa, olhando o vai e vem dos carros, em um restaurante, chamou-me a atenção, um senhor alto, moreno, corpulento que atravessa a rua. Não tinha o antebraço direito. Entrou e um rápido vista d’olhos escolhe uma mesa, sobre a qual deixou algo que indicava estar ela reservada.
Mais uma vez olhei em sentido da rua e noto que uma senhora, preocupada vinha empurrando um carrinho. Destes tipo carrinho de bebê. Mas era um carrinho maior, na sua forma e estrutura. A bordo assim podemos dizer um menino, com aproximadamente 12 anos, com a cabeça pendida para o lado direito e com o braço esquerdo levantado e a mão retorcida. Deduzi ser uma criança com alguma limitação neurológica.
Para alcançar a calçada a senhora que empurrava o carrinho, fez uma manobra um tanto difícil, pois não havia uma rampa de acesso. E para piorar ainda mais a situação ao tentar entrar no restaurante, três degraus impediam de forma agressiva a entrada do carrinho com a criança.
Próxima a porta do restaurante estava um senhor todo formal, engravatado, sisudo e olhar sério. Parecia mais um professor de DEUS. Estava postado a não mais que um metro da porta. A senhora, por certo mãe da criança iniciava a sua contenda com os degraus e com cuidado maior para não tombar o carrinho com a criança.
Levantei-me de onde me encontrava, com a intenção de ajudar a minimizar aquela situação. Cheguei tarde.
Quem estava ajudando a aquela mãe? Adivinhou?
É! Isto mesmo. Aquele senhor sem o antebraço e para surpresa minha, um outro senhor humilde e simples. Este último um transeunte.
A criança foi acomodada em uma cadeira, com a mãe ao lado. O senhor com sua limitação acomodou-se em outra mesa. O transeunte seguiu seu caminho.
Mas o interessante de tudo isto é que: Provavelmente o proprietário do estabelecimento sequer um dia pensou que uma pessoa com limitações, estaria freqüentando o seu restaurante.
E foi então que me dei conta. O habitáculo para higiene pessoal masculina, não apresentava nenhuma adaptação para pessoas com limitações. Provavelmente o mesmo para o sexo feminino.
Interessante como a preocupação com o dinheiro, faz com que as pessoas não se importem com o seu semelhante, ou com o próximo como diziam os antigos. O proprietário deste restaurante acabou de perder um cliente, apesar de oferecer uma comida honesta. Mas levando em conta a falta de atenção para com pessoas com limitações, (falta de rampa, habitáculo para higiene pessoa adatadol, mesa e cadeiras especiais e até um local de fácil trânsito interno), resolvi escrever esta crônica.
Não no sentido de só criticar, mas sim no intuito de sugerir que as autoridades municipais, passem a exigir a implantação da Norma Técnica NBR 9050 (Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações espaço mobiliário e equipamentos urbanos) e, sobretudo que as respeitem como cidadãos e seres humanos.
Não gostaria de ser negativo e nem de transmitir negatividade para ninguém.
Mas dias atrás, não muito longe da minha modesta casa, onde existe um Sanatório para pacientes com hanseníase, notei que todas as dependências são providas de rampas de acesso e que os habitáculos, não todos, mas uma boa parte é provida de elementos que facilitam em muito a vida dos internos. Explico. Muitos deles devido ao estado da doença se locomovem em cadeiras de rodas.
Qual a comparação que se pretende chegar, levando-se em conta o restaurante e o Sanatório?
Independentemente do estado de saúde do ser humano, quando e onde existirem situações de impedimento de acesso para pessoas com limitações, sempre será necessário que a sociedade reaja, exigindo que se atendam os anseios destes nossos irmãos.
Finalizando. Um dia destes neste Sanatório ouvi a seguinte “estória”. Uma enfermeira vinha andando pelo corredor, quando encontrou com outra companheira de trabalho, empurrando uma cadeira de rodas, onde se encontrava uma senhora, que pelo avanço da doença tinha as duas pernas amputadas. A enfermeira falou para a senhora da cadeira de rodas “Estou sentindo uma dor nas pernas, que não me agüento mais. É de tanto trabalhar.”.
A senhora lhe respondeu “Moça, eu daria tudo na vida, para poder sentir esta dor”.
Conclusão. A dor que muitos sentem, muitas vezes é ignorada por aqueles que nunca a sentiram. Ou ainda as dificuldades que muitas pessoas com limitações sentem, em geral são ignoradas por aquelas que não as têm.
Romão Miranda Vidal.