Brincos de princesa cultivados no jardim de Mariinha
Recordar o passado é reviver emoções. É como se saissem de uma gaveta empoeirada assumindo vida própria.
Aquele pedacinho de mundo ao pé da Serra foi onde Mariinha viveu grande parte da infância, recebeu muito carinho dos avós e começou a descobrir o mundo.
Sonhava ter uma casinha de brinquedo. Todas as meninas da roça tinham a sua. Um dia o avô construiu-a entre o barranco e a mangueira e deu-lhe de presente. Era de capim sapé e tinha dois cômodos divididos por paredes de bambu. O chão e o fogãozinho a lenha eram ambos rebocados com tabatinga branca. Na chapa, uma chaleira e duas panelinhas de ferro -presentes da bisavó- serviam para fazer comida de verdade.
Na casinha de capim, Mariinha recebia visita das primas e vizinhas. Eram dias cheios de alegria. Acendiam o fogo e cozinhavam: Arroz, chuchu, couve picadinha, abóbora madura, linguiça... O feijão, a vó trazia já cozido lá da casa grande. Os meninos eram convidados para o almoço, nem sempre aceitavam. Preferiam soltar papagaio ou pegar passarinhos com arapucas e estilingues, pensavam que brincar de casinha não era coisa para homem.
As meninas colhiam na roça, bonecas de milho verde, com cabelos ruivos e louros, para brincar e fazerem companhia às bonecas de pano com roupinhas coloridas.
Inventavam festas, passeios pelo quintal, rituais de beleza. As mais habilidosas cacheavam o cabelo usando bobs feitos dos talos do mamoeiro. Um enorme pé de brinco de princesa fornecia as joias para enfeitar as orelhas; no pescoço penduravam colares de jasmins e rosas.
A avó guardava vestidos antigos num baú e costumava emprestá-los. Havia vestidos de todas as cores e para todos os gostos. Ficavam enormes no corpo das pequenas comadres. Porém, isso se resolvia fazendo uns alinhavos aqui e ali e todas ficavam muito chiques.
Um dia, houve um detalhe a mais nessa arrumação toda. Uma das meninas teve a ideia:
—Onde é que já se viu uma cumadi sem peitos, vamu dá um jeito nisso?
A princípio ressabiadas. Depois todas concordaram, afinal já eram quase moças e o segredo ficaria só entre elas. Foi uma correria para apanhar laranjas e ajeitá-las debaixo da blusa... Para algumas o adereço ficava meio estranho. Ora a laranja era grande demais ou o limão galego muito pequeno.
Finalmente vestidas, cabelos cacheados, brincos na orelha. Muito vaidosas com suas sombrinhas de folhas de mamona as comadres estavam prontas, ostentando seios de laranjas e limões, isso tudo escondido das pessoas adultas.
Mariinha procurou entre as frutas alguma que lhe caísse bem, mas não encontrou nada de seu agrado. Pediu às comadres que esperassem e se dirigiu até o outro lado do pomar com uma ideia genial.
Sua avó, nessa época, cuidava de uma árvore rara naquela região. As sementes foram trazidas pela tia Bijica numa de suas visitas ao filho que morava no Paraná. Cercado por estacas de bambu, para impedir que as galinhas ciscassem suas raízes, lá estava ele... Um jovem pé de laranja lima. Não eram frutas comuns, eram limas de bico. A arvorezinha já tinha duas frutas, ainda verdes.
O tamanho das frutas era perfeito e havia justamente a quantidade que a menina precisava. E o melhor de tudo, as limas tinham bico! Iguaizinhos aos seios de verdade. Sem hesitar, Mariinha apanhou as duas limas verdes e ajeitou-as dentro do decote. Nesse dia conseguiu o mais lindo par de seios de sua infância... Redondos, bonitos e com bicos! Matou as outras comadres de inveja. Elas procuraram no pomar inteiro sem descobrir que fruta era aquela. Foi seu dia de glória, desfilou toda “inzibida” a tarde inteira.
Antes das comadres irem embora a menina avistou a mãe e a avó levando as visitas a fim de mostrar as plantas do pomar. Assustada caiu em si levando as mãos aos “seios." Previu o resultado de sua travessura quando ouviu a avó dizer:
—Minhas cumadi, bamu do otro lado da horta. Quero mostrá procêis meu pé de lima de bico. É uma ispéci lá do Paraná... Já deu duas fruta, qu’eu vô dexá madurá pa modi tirá semente...
Foto de uma lima de bico (Google)
Foto das panelinhas de ferro usadas na casinha. Hoje decoram a cozinha de Mariinha
Sonhava ter uma casinha de brinquedo. Todas as meninas da roça tinham a sua. Um dia o avô construiu-a entre o barranco e a mangueira e deu-lhe de presente. Era de capim sapé e tinha dois cômodos divididos por paredes de bambu. O chão e o fogãozinho a lenha eram ambos rebocados com tabatinga branca. Na chapa, uma chaleira e duas panelinhas de ferro -presentes da bisavó- serviam para fazer comida de verdade.
Na casinha de capim, Mariinha recebia visita das primas e vizinhas. Eram dias cheios de alegria. Acendiam o fogo e cozinhavam: Arroz, chuchu, couve picadinha, abóbora madura, linguiça... O feijão, a vó trazia já cozido lá da casa grande. Os meninos eram convidados para o almoço, nem sempre aceitavam. Preferiam soltar papagaio ou pegar passarinhos com arapucas e estilingues, pensavam que brincar de casinha não era coisa para homem.
As meninas colhiam na roça, bonecas de milho verde, com cabelos ruivos e louros, para brincar e fazerem companhia às bonecas de pano com roupinhas coloridas.
Inventavam festas, passeios pelo quintal, rituais de beleza. As mais habilidosas cacheavam o cabelo usando bobs feitos dos talos do mamoeiro. Um enorme pé de brinco de princesa fornecia as joias para enfeitar as orelhas; no pescoço penduravam colares de jasmins e rosas.
A avó guardava vestidos antigos num baú e costumava emprestá-los. Havia vestidos de todas as cores e para todos os gostos. Ficavam enormes no corpo das pequenas comadres. Porém, isso se resolvia fazendo uns alinhavos aqui e ali e todas ficavam muito chiques.
Um dia, houve um detalhe a mais nessa arrumação toda. Uma das meninas teve a ideia:
—Onde é que já se viu uma cumadi sem peitos, vamu dá um jeito nisso?
A princípio ressabiadas. Depois todas concordaram, afinal já eram quase moças e o segredo ficaria só entre elas. Foi uma correria para apanhar laranjas e ajeitá-las debaixo da blusa... Para algumas o adereço ficava meio estranho. Ora a laranja era grande demais ou o limão galego muito pequeno.
Finalmente vestidas, cabelos cacheados, brincos na orelha. Muito vaidosas com suas sombrinhas de folhas de mamona as comadres estavam prontas, ostentando seios de laranjas e limões, isso tudo escondido das pessoas adultas.
Mariinha procurou entre as frutas alguma que lhe caísse bem, mas não encontrou nada de seu agrado. Pediu às comadres que esperassem e se dirigiu até o outro lado do pomar com uma ideia genial.
Sua avó, nessa época, cuidava de uma árvore rara naquela região. As sementes foram trazidas pela tia Bijica numa de suas visitas ao filho que morava no Paraná. Cercado por estacas de bambu, para impedir que as galinhas ciscassem suas raízes, lá estava ele... Um jovem pé de laranja lima. Não eram frutas comuns, eram limas de bico. A arvorezinha já tinha duas frutas, ainda verdes.
O tamanho das frutas era perfeito e havia justamente a quantidade que a menina precisava. E o melhor de tudo, as limas tinham bico! Iguaizinhos aos seios de verdade. Sem hesitar, Mariinha apanhou as duas limas verdes e ajeitou-as dentro do decote. Nesse dia conseguiu o mais lindo par de seios de sua infância... Redondos, bonitos e com bicos! Matou as outras comadres de inveja. Elas procuraram no pomar inteiro sem descobrir que fruta era aquela. Foi seu dia de glória, desfilou toda “inzibida” a tarde inteira.
Antes das comadres irem embora a menina avistou a mãe e a avó levando as visitas a fim de mostrar as plantas do pomar. Assustada caiu em si levando as mãos aos “seios." Previu o resultado de sua travessura quando ouviu a avó dizer:
—Minhas cumadi, bamu do otro lado da horta. Quero mostrá procêis meu pé de lima de bico. É uma ispéci lá do Paraná... Já deu duas fruta, qu’eu vô dexá madurá pa modi tirá semente...
Foto de uma lima de bico (Google)
Foto das panelinhas de ferro usadas na casinha. Hoje decoram a cozinha de Mariinha